Passados quase dois meses sem atualizar este cantinho, na
verdade sem ter tempo para pouca coisa além de respirar e cumprir um insano (mas
delicioso) acúmulo de compromissos, resolvi fazer uma faxina, mudar a decoração
e comemorar com atraso o 4º aniversário deste blog (inaugurado em 06 de junho
de 2008). Curiosamente, o estopim de meu retorno não foi causado por um filme,
mas por um livro que devorei inteiro, numa sentada de rede, hoje mesmo. Essa
loucura que Cortázar gerou no verão de 49 e ainda permanece como um dos maiores
enigmas da ficção:

“Há de chegar o dia em que os acontecimentos que realmente
interessam serão fixados com uma linguagem isenta de toda ordenação formal, e
sem que uma prematura entrega à pura expressão poética torne incerto e
ininteligível o instante perfeito que se quer solenizar.”
Contracapa fechada, fica a impressão de que Cortázar desejou
alcançar o dia descrito, pois não há nada em Divertimento que ultrapasse o puro acontecimento, o instante
perfeito para o resgate da escrita. Páginas que se sucedem sem as conexões
frágeis e esperadas, que desafiam não só a linearidade do que se imprime no
papel, mas do que organizamos em nossa mente. Personagens e nomes que se
agrupam sem a menor psicologia, que discutem e compartilham com o escritor os
anseios da representação poética. Não é por acaso a gestação de quadros e poemas,
de questionamentos internos aos que perambulam entre as palavras, todos
reunidos em torno do gesto criativo e desesperado de sustentar o tempo.
Uma imagem bem demarcada abre a 2ª parte do livro, no novelo
que se desfaz lentamente para enredar outro enrolado de linhas; formação que se
desdobra e se volta sobre si, que afrouxa e aperta, que faz e desfaz nós, que
recobre camadas de linhas para ser recoberta por outras camadas e assim
aprofunda uma espécie de abismo, de novo planeta e nova realidade. Uma imagem pura
da ficção, desta brincadeira que nos amarra e enlaça e que, de maneiras
diversas, alimenta há mais de quatro anos este espaço de descobertas e
impressões particulares, mas também divididas, desfeitas e desenroladas para o
nascer de novas formações.
É o que fica. E prossegue.