sexta-feira, 2 de novembro de 2012

LOOPER - ASSASSINOS DO FUTURO

Looper - Assassinos do Futuro (Rian Johnson, 2012)

Faço minha a careta de Bruce Willis. Para todos que engolem um filme como Looper diante do argumento vazio que relaciona a esterilidade de certo cinema a uma aceitação cega de qualquer efeito que escamoteie a sua aparência e finja novidade. Careta para esta postura adolescente de se receber bem um filme pelo que de ‘menos ruim’ ele possa ter. Careta para as cifras que continuam nivelando um público a ponto de satisfazê-lo com sobras de imagens ou ruídos, com enredos que travestem a sua velhice através de tecnologias que também se ultrapassam assim que os filmes são lançados e caem na rede. Não há absolutamente nada que justifique o novo filme com Bruce Willis ― pois é somente disso que se trata, um filme com alguém ― dentro do cenário atual de produção, seja pelo seu desequilíbrio entre gêneros, pelo desgaste que faz da imagem de seu elenco, ou pelo lugar da ação que motiva sua estratégia de simplesmente ser um filme que emula a contracorrente ao que Michael Bay hoje sintetiza dentro do cinema americano. Podem louvar uma ou outra cena de diálogo mais longo, um ou outro corte que demore mais a acontecer; nada disso significa qualquer domínio de espaço-tempo, controle de ação dramática ou intenção nobre, caso seja possível pensar em valor moral dentro do cinema para as massas. Careta para este louvor.

Assim como um personagem de Looper zomba de outro, num tempo futuro, pela sua ridícula composição visual inspirada no século XX (com coletes, gravatas e acessórios que já não se encaixam no pretenso futuro retratado pelo filme), a própria condição de Looper dentro da grade de lançamentos é coisa da qual só se pode rir e zombar, pois é título de um deslocamento constrangedor e que, equivocadamente por isso, tem confundido e iludido seu público com um véu de criatividade vencida e trazida de cinemas que só se justificavam no final daquele outro século, período de ouro para figuras como Bruce Willis. Há apenas uma cena que explica a existência deste filme: aquela em que Willis atravessa parte de um cenário empunhando duas metralhadoras (super século XX) e dizimando um punhado de brutamontes que querem executá-lo. Homens sem rostos, corpos sem nomes, marionetes que não tiveram a sorte de se chamar Bruce Willis. Tal explicação fragiliza ainda mais o lugar do filme pela recente e brilhante participação deste mesmo ator nas duas seqüências de Os Mercenários (2010; 2012) ― a primeira delas com uma única e genial aparição de Willis dentro de uma igreja, questionando a própria sacralidade de sua imagem e nome, e a segunda com estas mesmas metralhadoras, mas aí acrescida de uma ambiguidade e ironia que passa longe de qualquer pretensão havida em Looper

A cena das metralhadoras aqui, assim como toda estrutura narrativa e visual de Looper, demonstra ser este um filme que não alcança qualquer visão de futuro (coisa que pretende dentro de sua abordagem de pseudo-ficção científica) justamente por não descolar ou problematizar os contornos passados de Bruce Willis e todo o cinema a ele vinculado. É um filme que talvez funcionasse lá atrás, há 20 ou 30 anos, no mercado das videolocadoras, no cinema-ação que se reconfigurava, ainda que de maneira agonizante. Para os dias de hoje, e porque uma obra precisa relacionar-se com seu tempo, Looper não passa de um mesmo espelho quebrado que mal consegue refletir imagens de qualquer tipo; um filme que ambiciona as temporalidades como tema, mas que não consegue sequer uma mínima compreensão do que sejam o tempo ou suas conseqüências sobre os corpos no mundo; um passatempo que assassina seu próprio futuro. 

[Texto publicado no SITE FILMOLOGIA]

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