segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

UMA LUZ NO INÍCIO DO TÚNEL


Gradiente Luminoso, Jan Krüger, 2009.

É muito fácil enxergar na última década um interesse do cinema no sentido de uma reintegração do homem com a natureza. Dentro do significativo número de produções que colocou em cena o rompimento do humano com o mundo encontramos um nicho específico de filmes que tem como tema comum a errância de dois indivíduos masculinos numa relação entre si e com o espaço. Do meu querido divisor de águas, Gerry (Gus Van Sant, 2002), a filmes mais conhecidos, Mal dos Trópicos (Apichatpong Weerasethakul, 2004), Brokeback Mountain (Ang Lee, 2005), ou menos conhecidos, Old Joy (Kelly Reichardt, 2006), vêm à memória diversos títulos que ajudam a entender o cinema deste início de século, em sua perspectiva conciliadora, restauradora de uma comunhão perdida, numa espécie de avesso do que os primeiros cinemas constataram em sua forma de registrar o mundo.

Em continuidade a este projeto do olhar e do narrar, deparo-me com Gradiente Luminoso (Rückenwind), filme que dá mais um passo na interação dos filmes citados, finalmente sem o temor de abordar a sexualidade dos protagonistas como algo que, naturalmente, também não é temido por eles. À medida que o desinibir dos corpos se dá, na nudez e na intimidade deles, fico me perguntando se realmente já é possível verter esse tipo de tratamento ao que filmes como Gerry iniciaram na investigação cinematográfica contemporânea. O que, para muitos, poderia representar uma quebra de paradigmas, uma derrubada de tabus, prefiro encarar como um novo problema a ser discutido, pois se os jovens filmados pelo alemão Krüger já não experimentam da ambigüidade em seu relacionamento, o mesmo não pode ser dito das imagens em si que materializam o filme. Tantos disseram que naqueles filmes (Gerry, Mal dos Trópicos, Brokeback Mountain, Old Joy) o sexo era a chave de resposta, a espécie de luz no fim do túnel; assistindo Gradiente Luminoso percebo que ainda não conseguimos nem entrar em túnel algum.

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