quarta-feira, 20 de abril de 2011

NACER KHEMIR



Figura singular da moderna cultura árabe, Nacer Khemir é um homem das artes que, honrando o título, não dedica privilégios a códigos ou linguagens específicas. Filho das Mil e Uma Noites, seu princípio criativo parte de uma herança legada pelo saber ancestral de um povo e um lugar que encontra na narrativa a sobrevivência, a continuidade de uma sempre renovada tradição.

Poeta, romancista, escultor, caligrafista e arabista, o tunisiano Khemir (nascido em 1950) encontrou no cinema mais uma vertente para este exercício que lhe é tão caro: contar histórias. Os três longas que compõem sua refinada carreira, conhecidos em conjunto como formadores da Trilogia do Deserto, abarcam um repertório de lendas, mitos e memórias da cultura árabe clássica que, pelo dispositivo audiovisual, são atualizados e acrescidos de novos significados e possibilidades de interpretação; são eles: Andarilhos do Deserto (1986), O Colar Perdido da Pomba (1992) e Baba Aziz – O Príncipe que Contemplou Sua Alma (2005).

Todos ambientados numa onipresença desértica, característica da geografia que toma quase metade da Tunísia com o Deserto do Saara, os filmes de Nacer Khemir fazem da virtualidade da areia a base para o entrelaçamento de suas alegorias sempre labirínticas, dos mitos que impregnam as imagens deste cinema com um caráter pictórico bastante estranho para os referenciais estéticos ocidentais. Do cinema enquanto parábola, Khemir configura um interesse pela imagem que ultrapassa as fronteiras de sua geografia para desenvolver temas de alcance universal, desprovidos de nacionalidade, mas pautados por uma língua (árabe) que precisa permanecer como caminho para que suas histórias não morram.

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