1º Lugar: Um Sopro de
Vida (Clarice Lispector)
Não, eu não estou me repetindo em meus Tops literários. Nada
posso fazer se a autora que mais admiro continua me surpreendendo ano após ano,
página após página. Há tempos iniciara a leitura deste seu livro póstumo,
aquele que mais próximo chega de Água
Viva, mas nunca ousei concluí-lo para não ter que obedecer ao pedido que
Clarice deixou logo na parte introdutória: “Quando fechardes as últimas páginas
deste malogrado e afoito e brincalhão livro de vida então esquecei-me.” Não
poderei. Terei de traí-la em seu desejo íntimo, se não posso arrancar da
memória os sentimentos em mim despertados por seus diálogos quase socráticos.
Um livro sobre a vida, sobre a criação do verbo, um livro que me responde o
troco da alegria que foi ver nascer o meu próprio rebento (A Modernidade em Diálogo) e me leva a desejar mais destas emoções,
de tudo isso que me justifica entre as letras e me faz nelas continuar crendo.
Um livro-milagre sobre mim.
2º Lugar: Com Os Meus
Olhos de Cão (Hilda Hilst)
Também não me repito com Hilda, que permanece esta pedra no caminho,
este sorriso hierárquico a me soterrar, seja com a prosa ou o verso, seja na
hibridez de que se forma esta sua nada tímida novela. “Não sou nem carne e
sangue/ Nem poeira.” Sou este obcecado sofredor que insiste em sua literatura
para não abandonar a fé inclusive pelo que não acredita. Livro imediatamente
posterior ao meu favorito Uma Obscena
Senhora D., neste breve rompante, Hilda prossegue enfurecida em sua relação
com Deus, com o mundo e consigo própria. Desses textos que
me lembram tão profundamente de minha humanidade que quase me transformam em
bicho.
3º Lugar: O
Deslumbramento (Marguerite Duras)
Que este seja o Top mais feminino por mim já elaborado, não
resta dúvidas. Mas se ele fosse todo formado por escritores homens, o fato nem
chamaria atenção; por isso deixo o sexo de lado para pensar nas obras que mais
me marcaram em 2012, sem ignorar que há muita ‘macheza’ nestas mulheres todas. “Nunca
se lhe vira uma lágrima de moça.” É assim descrita a protagonista Lol V. Stein,
retomada por Marguerite em seu cinema e literatura posteriores. Núcleo de um
universo notavelmente autoral, O Deslumbramento
torna-se não apenas o melhor título que já provei desta mulher (que, não por
acaso, assinou o melhor filme a que assisti também em 2012), mas um dos mais
inquietantes no registro de uma linguagem que desafia a memória e minha tão
cara relação com o Sagrado. Assim como Lol Stein, eu me descubro a mim mesmo
quando “... um dia esse corpo doente se mexe no ventre de Deus.”
4º Lugar: Ocupado
Demais Para Deixar de Orar (Bill Hybels)
Se um livro possui o tempo certo para chegar ao seu leitor,
posso dizer que este veio até mim com um propósito muito especial. Mais do que
um manual de intercessão, o apelo de Bill Hybels é por um cristianismo sincero,
vivido a cada minuto de vida, a despeito do cotidiano e de todos os
compromissos que tentam nos roubar do tempo e da confiança em Deus. Para um
2012 tão atropelado que, inclusive, não me permitiu muitas leituras completas
(e um ano vindouro que promete ser bem mais complicado nos meus relógios...),
este livro foi a resposta que eu precisava para não me esquecer de que a oração
é uma coisa que nasce no interior da alma e chega aos céus, não importam as
circunstâncias. Seja num período reservado com os joelhos no chão, seja numa breve
súplica em meio a qualquer atividade do dia-a-dia, Deus nos espera com o ouvido
atento, desejoso de que lembremos sua constante presença. Sou muito grato por
ter sido encontrado por este livro.
Menção Honrosa: Cinema
de Garagem – Um Inventário Afetivo Sobre o Jovem Cinema Brasileiro do Século
XXI (Org. Dellani Lima & Marcelo Ikeda)
Lido durante a organização dos pensamentos para um texto que
eu mesmo assinaria com o amigo Rodrigo Almeida (e que veio a integrar a outra coletânea
Cinema de Garagem, catálogo oficial
da Mostra homônima patrocinada pela Caixa/RJ, com curadoria dos mesmos autores),
este pequeno livro-de-garagem foi um renovo para meu fôlego crítico, bastante
afetado no correr de 2012. Foi uma publicação que, além de mapa cinéfilo ou
diário íntimo, serviu-me para entender um pouco mais do meu próprio lugar na
atual geração de espectadores encontrada pelo cinema, igualmente formadora
deste cinema. Compilação de textos vigorosa e cheia de juventude, posso culpa-la
também pela coragem que me deu de desengavetar algumas coisas que não podiam
mais esperar. E que 2013 venha.