sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

FRAGMENTOS PARA UM FIM DE MUNDO

O Cavalo de Turim (Béla Tarr, 2011)

Com as expectativas para fim do mundo, tomei coragem de, nos últimos dias, pagar duas dívidas que carregava, penosamente, para com a arte. A primeira delas, no filme O Cavalo de Turim, encerramento da carreira de Béla Tarr, que eu me recusei a ver por algum tempo, somente em pensar que era seu último filme e que, depois dele, não haveria mais nada (ele declarou ser este o seu último trabalho e ponto final). A segunda, no livro de Clarice que eu nunca encerrei, Um Sopro de Vida, obra póstuma que dá uma clara retomada ao que tanto admiro em Água Viva. Em ambos os casos, obras sobre um fim de mundo, de criação, desfechos de toda uma estética.

Eu e meu problema com o final das coisas. Principalmente das boas. Resisto a obras testamentárias como se minha ignorância pudesse realizar o milagre de reverter a morte. E nestas duas que me trouxeram um dos mais profundos apocalipses já vividos, a restituição de um tempo que transcende os maias, que soterra as profecias. Béla Tarr e Clarice me devolvem o que perdi no decorrer de 2012, entre agenda lotada com leituras, provas, cursos e compromissos mil. Que tentaram me roubar de mim. E mais uma vez agradeço a estes mestres, amigos de minha cabeceira, por mostrarem que o fim, não importa o clichê, é o recomeço.

Fragmentos de Clarice para um fim de mundo:

“Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. [...] O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. [...] Então – para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa – eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. [...] Saber desistir. Abandonar ou não abandonar – esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo?”

2 comentários:

  1. Prezado Fernando, achei interessante o seu blog.

    Gosto muito de cinema e atualmente utilizo o bj-share e o manicomio share para baixar filmes, porém muitas vezes não encontro alguns títulos.

    Gostaria que você me indicasse como posso fazer para entrar no site Making Off, que você cita aqui no seu blog, e que pesquisei e achei deveras interessante. Utilizo também o Internet Movie Database (IMDb).

    Alguns filmes que gosto muito são: The Holy Montain (1973), Dersu Uzala (1975), o Sétimo Selo (1957), L'autre monde (2010), Mulholland Dr.(2001). Recentemente assisti um filme que gostei muito, 13 Assassins (2010). E hoje pretendo assistir Holy Motors (2012). E já estou baixando O Cavalo de Turim (2011), indicado aqui no seu blog.

    Também possuo um blog, onde tento fazer algumas provocações: http://andreymozzer.wordpress.com/

    Se você puder me ajudar, desde já, agraceço.

    Saudações,

    Andrey Mozzer

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  2. Obrigado pela visita, almozzer! Entrarei em contato contigo para falar sobre o MAKING OFF. Um abraço!

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