O Cavalo de Turim (Béla Tarr, 2011) |
Com as expectativas para fim do mundo, tomei coragem de, nos
últimos dias, pagar duas dívidas que carregava, penosamente, para com a arte. A
primeira delas, no filme O Cavalo de
Turim, encerramento da carreira de Béla Tarr, que eu me recusei a ver por
algum tempo, somente em pensar que era seu último filme e que, depois dele, não
haveria mais nada (ele declarou ser este o seu último trabalho e ponto final). A
segunda, no livro de Clarice que eu nunca encerrei, Um Sopro de Vida, obra póstuma que dá uma clara retomada ao que
tanto admiro em Água Viva. Em ambos
os casos, obras sobre um fim de mundo, de criação, desfechos de toda uma
estética.
Eu e meu problema com o final das coisas. Principalmente das
boas. Resisto a obras testamentárias como se minha ignorância pudesse realizar o
milagre de reverter a morte. E nestas duas que me trouxeram um dos mais
profundos apocalipses já vividos, a restituição de um tempo que transcende os
maias, que soterra as profecias. Béla Tarr e Clarice me devolvem o que perdi no
decorrer de 2012, entre agenda lotada com leituras, provas, cursos e compromissos
mil. Que tentaram me roubar de mim. E mais uma vez agradeço a estes mestres,
amigos de minha cabeceira, por mostrarem que o fim, não importa o clichê, é o
recomeço.
Fragmentos de Clarice para um fim de mundo:
“Nunca a vida foi tão
atual como hoje: por um triz é o futuro. [...] O tempo não existe. O que
chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não
existe. [...] Então – para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e
pelas novidades que fazem o tempo passar depressa – eu cultivo um certo tédio.
Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da
eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me
multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de
imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. [...] Saber desistir.
Abandonar ou não abandonar – esta é muitas vezes a questão para um jogador. A
arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação
angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei
capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente
esperando que aconteça alguma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo?”
Prezado Fernando, achei interessante o seu blog.
ResponderExcluirGosto muito de cinema e atualmente utilizo o bj-share e o manicomio share para baixar filmes, porém muitas vezes não encontro alguns títulos.
Gostaria que você me indicasse como posso fazer para entrar no site Making Off, que você cita aqui no seu blog, e que pesquisei e achei deveras interessante. Utilizo também o Internet Movie Database (IMDb).
Alguns filmes que gosto muito são: The Holy Montain (1973), Dersu Uzala (1975), o Sétimo Selo (1957), L'autre monde (2010), Mulholland Dr.(2001). Recentemente assisti um filme que gostei muito, 13 Assassins (2010). E hoje pretendo assistir Holy Motors (2012). E já estou baixando O Cavalo de Turim (2011), indicado aqui no seu blog.
Também possuo um blog, onde tento fazer algumas provocações: http://andreymozzer.wordpress.com/
Se você puder me ajudar, desde já, agraceço.
Saudações,
Andrey Mozzer
Obrigado pela visita, almozzer! Entrarei em contato contigo para falar sobre o MAKING OFF. Um abraço!
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