
A Cicatriz, Krzysztof Kieslowski, 1976.
O primeiro longa-metragem de Kieslowski.
Sobre o muro que divide a ficção do documentário, uma narrativa ecologicamente atual. Uma fábrica a ser construída num espaço da natureza. Um vilarejo em risco. O inevitável desmatamento. No meio disso, um profissional que precisa enfrentar os cidadãos do lugar. Um profissional que é homem. E que nesse lugar carrega alguma amarga lembrança do passado.
Uma terra ferida.
Um homem ferido.
Cicatrizes que se imprimem antes de tudo na imagem.
É incrível o apuro que Kieslowski alcançou marcando por todo o filme, as imagens com riscos verticais, de árvores, pessoas, grades, e tantos outros elementos que laceram a tela.
A imagem ferida.

Um filme frio.
Confesso que A Cicatriz não me tocou como outras criações do autor, mas acho que sob tal temática, a frieza humana seja a emoção mais coerente a ser transmitida.
Na última cena (também marcada pela vertizalidade do relógio, da porta e da iluminação que por ela penetra), palco dos créditos finais, o homem brinca com seu filhinho despreocupadamente. Nela, um momento de calor. Talvez porque o bebê seja o único que ainda não traga marcas. O único em todo filme que desconheça uma ferida.
A inocência cura.
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