quinta-feira, 23 de junho de 2011

CHANTAL AKERMAN, DE CÁ



Do privilégio de ter participado, esta semana, numa das sessões programadas pelo Cinema da Fundação (FUNDAJ), para o novo filme de Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira, concluo, convicto, de que tomei parte em um ato de guerra. Filme de delicadeza, assim como de protesto, Chantal Akerman, De Cá, me foi uma experiência que ainda não posso avaliar o tamanho e importância para minha formação cinéfila, mas que sinto entrar no seleto grupo daquelas que, de alguma forma, definem um "antes" e "depois" para o olhar. Registro minha mais profunda gratidão ao cinema exibidor, aos realizadores e, claro, a esta mulher singular, esta mulher-tempo, este estandarte que nos renova a esperança por lembrar-nos que ainda temos o tempo. Ainda temos tudo.

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sábado, 11 de junho de 2011

PARA F. M.

Para F. M.

Aguardei você no entardecer dos campos
Olhos fechados, sobre o gramado
Escutando um som de passos no farfalhar das árvores;
Esperando que meus lábios, lábios sentissem, onde a suave brisa tocara;
O corpo tenso em perceber calor de mãos onde o calor do sol brilhara.

Você não veio. Voltei a entrar
Lamentando que o sol caíra
Que o vento esfriara
Que as árvores tanto ruído causaram.
Uma pessoa ganharia mais cochilando em casa.


To F. M.


I waited for you in the fields of afternoon'
Eyes closed, I lay upon the grass
Listening for the sound of steps in the swaying of the trees;
Waiting for my lips to feel lips where the soft breeze had been;
Body tense to feel the warmth of hands where warmth of sun had shone.

You did not come. I went inside
Complaining that the suns go down
And that the wind is far too chill
And that trees make so much noise
A person'd better take her nap indoors.



Maya Deren - Massachusetts, 1938


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quarta-feira, 1 de junho de 2011

ESPECIAL MAYA DEREN - FILMOLOGIA



Então, temos isso: “uma edição feminina do Filmologia”. Coisa velha, ideia das mais procuradas internamente desde o início. Mas é necessário realizar uma edição sobre o olhar de uma mulher, olhar de mulher e não só sobre o cinema de uma mulher. Não é esse o caso. De alguma forma, busca-se um signo, um simbolo feminino, uma busca fácil no que toca ao Feminino no cinema: já conhecemos classicamente esta imagem em Marilyn, Gardner, Grahame, Hepburn, Huppert, Bardot, Deneuve… Mas queríamos uma outra imagem. Era preciso, sobretudo, procurar um olhar feminino sobre o mundo. Isso é certo: faz parte do desejo de tocar tal cinema. Mas era preciso também reencontrar, hoje, imagens da feminilidade, produzidas por ela mesma, imagens que, ao contrário do que se pensa, são menos frágeis do que chocantes em sua beleza fruída pela técnica, por uma certa lógica da montagem. O que fizemos, então? Escolhemos Eleanora Derenkowskaya, mais conhecida como Maya Deren, ucraniana que muda cedo para os Estados Unidos e que lá realizará quase todos os seus filmes.

Cineasta que tem sua escrita e olhar bastante particulares, que tem uma obra composta de sete curtas e um média-metragem, e uma coerência que realmente impressiona no que toca à superfície de seus filmes. Filmes que se fazem sempre no ato de distorcer os tempos, de reencontrar objetos e corpos quase que inconscientemente, num grande (e estranho?) ato de torná-los símbolos. É a presença desse “tempo-corpo”, “corpo-no-tempo”, que vai chamar nossa atenção no que toca ao grande desejo que tivemos de capturar, na pequena extensão de um breve número como este, um “olhar feminino”. O cinema de Maya Deren nos deixa tudo em claro. Ele une tudo o que tentamos procurar e propor aqui, ao passo que versa especialmente sobre um tempo: tempo de restituição feminina, que dará conta também de colocar em exposição o “horror” conforme é enxergado pelo olhar feminino. Algo que, às vezes, somente uma mulher pode nos dizer, nos mostrar e nos fazer entender.

Edição Especial - #05 Maya Deren

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