quinta-feira, 25 de março de 2010

O MUNDO VISÍVEL


O Mundo Visível, Eugène Green, 2003.

Novo post no MAKING OFF.

Screens no MULTIPLOT.


“[...] eu sei que para mim, para quem as flores fazem parte do desejo, há lágrimas à espera nas pétalas de uma rosa. Sempre me aconteceu a mesma coisa, desde a infância. Não há uma única cor escondida no cálice de uma flor, ou na curva de uma concha, à qual, por alguma sutil simpatia com a alma das coisas, a minha natureza não responda. Como Gautier, sempre fui um daqueles pour qui le monde visible existe.”

Para quem o mundo visível existe.

Recordar as palavras que Oscar Wilde dedicou ao amante enquanto estava preso e impossibilitado tanto de manter contato com sua família, sua arte e o mundo, é aproximar-se do espírito que Eugène Green captura em seu mundo particular e nos apresenta neste, um dos filmes mais fantásticos já feitos, onde o registro do fantástico, verdadeiramente extraordinário, adquire significados que ultrapassam o tom da fábula em privilégio primeiramente ao mecanismo cinematográfico, naturalmente dotado e voltado para a capacidade de instaurar a fantasia. Mecanismo que, aqui, revela-se em suas possibilidades mais profundas, ao mesmo tempo distintas e indiscerníveis ao mundo; obriga-se a um rigor na representação que altera o que há de natural nos códigos visuais e na noção de expectativa narrativa; liberta-se das amarras físicas impostas pela natureza da imagem em direção a um estado e um direito de ser próprios. Mecanismo para quem o mundo existe.

Poucas vezes o cinema terá alçado alturas que beirem o inconcebível, fazendo da fantasia não somente um chavão de gênero, mas um lugar e, definitivamente O Lugar, que é devido a si. Pois se a fantasia aflora no mundo de Green como condição primeira do entendimento/sentimento, o faz incidindo ao mesmo tempo no objeto narrado como no objeto que narra, ou seja, desenvolvendo conjuntamente a simplicidade do enredo e a reflexão do que movimenta a imagem fílmica, daquilo que subsiste como vetor da fantasia e por ela sobrevive. Uma imagem, em Green, é mais do que um elo da corrente –seja ela de um corpo, de parte dele, de uma matéria orgânica ou mineral –, cada uma é como um mundo próprio, dotado de um existir e de uma visibilidade tão particulares que quase independentes entre si, o que de fato seriam caso o corte também não significasse todo um novo mundo. É de cortes que a fantasia de Green se alimenta, nutrindo não somente o rico arcabouço visual por ele conseguido, mas sensibilizando em nós, na mente espectadora, um mundo outro; mundo que é quase indiferente ao filme, pois maior no pormenor e mais próximo do mundo primeiro que a câmera conheceu.

Numa determinada cena, a bela dama aprisionada como esposa do temível ogro, revela que está unida a ele por palavras e que somente palavras de maior peso poderão libertá-la do jugo. Green demonstra crer nisso tão piamente que imprime um peso único a tudo que filma, somente assim alcançando a libertação de amarras já sedimentadas pelo cinema em sua forma de narrar e figurar uma situação dramática. O cinema aqui, não é mais aquele interessado unicamente em instigar a imaginação de um público – apesar de atuar diretamente nela –, agora é ele próprio quem se permite imaginar, ir além, pelo que mostra e pelo que oculta, pelo que une e o que separa, pelo vigor de uma continuidade que não se contenta com o prosseguimento do que é visto, mas com um convencimento do que é vivo, e que vive, além do filme.

É mais uma vez em Wilde, homem que também libertou-se pelo peso das palavras, que entendemos o domínio do imaginário:

“O passado, o presente e o futuro mais não são que um momento, aos olhos de Deus, sob cujo olhar devemos tentar viver. O tempo e o espaço, a sucessão e a extensão, não são mais do que condições acidentais do Pensamento. A imaginação pode transcendê-las, e passar para uma esfera livre, de existências ideais.”
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Para registro, também exibimos o filme no Cineclube Dissenso:

quinta-feira, 18 de março de 2010

PURIFICAÇÃO
















Nostalgia, Andrei Tarkovski, 1983.

terça-feira, 16 de março de 2010

OUTROS ÂNGULOS MEUS


MULTIPLOT:

TOP - Década de 00
Pequenas Mortes, Lynne Ramsay, 1996


MAKING OFF:
O Grupo de Ninjas, Nagisa Oshima, 1967

QUEM DIRIA...



Aproveitando a recente confissão de amor pela Sandra, deixem-me logo vir contar uma coisa que está entalada desde o início do ano: Crepúsculo é legal demais!!! Por favor, estou falando do livro...

Eu acho que foi uma espécie de barreira natural que me fez abrir 2010 lendo o best-seller do momento; afinal, o ano (e os próximos também) promete ser tão intelectualizado por aqui que chega estou com um medinho. Sério mesmo, há mais de 3 anos eu não lia um best-seller e estou mesmo arrependido por este jejum, porque poucas coisas podem ser mais gostosas do que matar uma viagem de ônibus vendo as páginas correrem soltas em meio a diálogos deliciosamente previsíveis e cheios de clichês. Levando em conta que se não fosse por Sidney Sheldon hoje eu não estaria estudando Clarice Lispector numa pós em Literatura, é melhor eu aprender a não deixar de ler um best-seller pra relaxar no fim de semana.

Mas enfim, sobre o Crepúsculo em si... É, todo mundo já sabe, já viu o filme breguinha e os preconceitos rolam soltos por aí, totalmente justificados. Mas de maneira bem semelhante ao fenômeno Harry Potter e ao respeito que nutro pela Rowling, não posso ignorar de jeito nenhum o serviço que Stephenie Meyer faz, espalhando em seu livro referências a Shakespeare, Jane Austen e boa parte da literatura inglesa romântica. E nem adianta eu tentar me envergonhar, nada apaga os sorrisos que ela arrancou de mim com aquele casalzinho carismático...

Tá, virei fã, eu sei... E quem ganha é minha priminha; presenteei-a com o resto da coleção e sou o primeiro da fila no empréstimo... Operações cavalos de tróia ainda funcionam...

segunda-feira, 8 de março de 2010

QUEM DIRIA...



Eu sei que pouca gente, talvez quase ninguém que me conheça no presente momento de minha vida, vai entender ou sequer acreditar que euzinho aqui festejou a vitória de Sandra Bullock no Oscar. Ano passado comentei vez por outra alguma coisa relativa ao pegajoso prêmio; dessa vez eu ia deixar passar batido, mas com essa novidade seria uma enorme hipocrisia eu me calar.

Para não prolongar o momento confissão, digo logo: eu amo a Sandra Bullock! E provavelmente só agüentei a transmissão porcaria da Globo até o fim por causa dela (claro, a torcida anti-Avatar também conta). A namoradinha da América, antes de tudo, foi minha namoradinha na adolescência, e filmes como Velocidade Máxima (Jan de Bont, 1994) e Enquanto Você Dormia (Jon Turteltaub, 1995) foram definitivos para que meu interesse por cinema crescesse. Se é um fato que há males que vêm para o bem, encontro aí um dos melhores que já provei. Todo mundo sabe que a Sandra não é grande atriz (ela própria também), mas e daí? Todo mundo também sabe que o Oscar não premia os melhores filmes do ano!

O que eu celebro é uma nostalgia gostosa, difícil mesmo de ser descrita. E fica a vontade enorme de rever minha pilha de VHS em que eu gravei toda a filmografia dela...