terça-feira, 27 de setembro de 2011

A ANSIEDADE DO OLHAR



Há de se registrar a presença de Andrea Tonacci no XV Encontro Internacional da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema (SOCINE - UFRJ), no último dia 21 de setembro, como parte da programação do Seminário Temático ‘Cinema , Estética e Política: a resistência e os atos de criação’. Na ocasião, o cineasta conversou a respeito de algumas questões primordiais para uma aproximação de seu cinema, construído por uma carreira tão particular, de poucos títulos, muita experiência na bagagem e uma sensibilidade que se destaca no cenário de produção mundial – pois há mais do que uma identidade de nação a ser discutida em seus filmes.

Tirando proveito da certa intimidade que o diálogo com o público (universitário) naturalmente gerou, Tonacci exibiu um considerável material inédito, fruto de suas filmagens nos anos 80, decorrente dos primeiros contatos que nutriu com os índios Arara – lembremos de todo o longo período que o diretor optou por viver em meio as florestas, afastado da realidade urbana e disposto a encontrar uma nova postura de percepção para com o mundo e o próximo. E foi desta projeção que algumas revelações brotaram, seja pela imanência das imagens cruas (não editadas e desprovidas de qualquer decupagem que não aquela intrínseca à câmera), pelas palavras calmamente escolhidas por Tonacci ao elaborar suas respostas, ou mesmo pela gestualidade de suas reações aos questionamentos dos estudantes e profissionais lá presentes.

Foi com a tranqüilidade de um homem que já esteve perto de dominar o tempo, em meio a silêncios expressivos, esquecimentos momentâneos da linha de raciocínio, enquanto fechava os olhos ou coçava a cabeça, que Tonacci discorreu a respeito do olhar ansioso que impera em seus filmes, sua procura pelos “desenhos dos corpos, os olhares e a relação entre eles”. Segundo ele, filmar é estar sempre “em prontidão para alguma coisa: um gesto, um tique de rosto, uma palavra, um som...”, e daí inferimos uma assertiva que diz respeito não somente ao projeto indianista do diretor, do qual Serras da Desordem (2006) delineia um inquestionável ápice, mas a toda sua preocupação cinematográfica, materializada desde Bang Bang (1971) ou BláBláBlá (1975).

Para Tonacci, um ato de filmagem se justifica somente a partir da procura de uma continuidade, como se através da câmera fosse possível observar a forma do pensamento, o perceber a si mesmo. Ele sempre faz questão de frisar, quando o debate se aproxima do caráter antropológico de seu cinema, a subjetividade do olhar que se debruça ao outro, que apreende o outro, mas que não é do outro. “Do outro eu nada sei, sei somente que ele me pensa, mas não como me pensa ou o que pensa de mim.” Vem daí a necessária conscientização de aproximar-se desconhecendo, baseado unicamente em suas imagens interiores, despido de qualquer padrão visual externo.

Relacionar-se com um lugar a partir dos sentidos foi exatamente o que o motivou, um dia, a abandonar os centros urbanos: desenvolver a pele, desintegrar os horizontes antigos, deixar-se enredar na criação de novas dependências a partir do contato com a interferência externa. Da nova compreensão para o mundo, o cinema vem operar como outra responsabilidade da postura humana, seja pelo sentido narrativo determinado quase organicamente junto ao processo fílmico, ou – e principalmente – pelo exercício de montagem, que, para Tonacci, representa a segunda dimensão do que fora vivido enquanto realidade sensória, um espessamento desta, um interesse oculto.

“O acúmulo de imagens tem um peso no autoconhecimento”, foi a primeira observação feita pelo diretor no encontro citado. E tudo parte daí. A bem da verdade, uma perspectiva que não se limita aos cinemas correntes em 2011, mas que nos acompanha desde, pelo menos, o exato período em que Tonacci começou a trabalhar com cinema (anos 60/70). O que distingue seu olhar, sem deixar de aproximá-lo a outros igualmente pertinentes à contemporaneidade, pode estar relacionado justamente a esta consciência do acúmulo: acumulamos imagens, movimentos, mundos dentro de nós; aprisionados estamos a um peso perpétuo, à beira do desequilíbrio; mas o que fazer com tanto? Fica a pergunta de um cinema não encerrado, um conflito não resolvido, uma humanidade.

MAIS FORTE QUE A VINGANÇA

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LARRY CROWNE

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terça-feira, 13 de setembro de 2011

TOP LÁGRIMAS

Na última semana tive a oportunidade de rever um dos filmes da minha vida dentro de uma sala de cinema. Não, não foi no Dissenso, nem numa mostra alternativa. Mas num Multiplex e com óculos 3D eu voltei ao amor de O Rei Leão. Momento mágico, perene, de muito sorriso no rosto e lágrimas nos olhos, cantarolei junto toda a trilha sonora e me espantei ao perceber como a memória auditiva é forte. Eu praticamente fui me lembrando das cenas a partir do áudio! Conseguindo prever cada fala ou som com alguma antecedência que minha visão não era capaz. E como eu previa, pela experiência de ser este um dos raros filmes que repeti algumas dezenas de vezes na vida, foi uma sessão de muito choro; fato que me inspirou a esboçar um top um tanto quando diferenciado, elencando aqueles filmes que mais me arrancaram lágrimas. Vamos ver no que isso pode dar...


1º Náufrago (Robert Zemeckis, EUA, 2000)


Importa esclarecer que esta não é uma lista qualitativa, mas sim lacrimativa, por isso totalmente pessoal. E nada me faz chorar mais nesse mundo do que ver (e rever todos os anos) a bolinha Wilson se afastando no meio do oceano. Eu até poderia aproveitar e lembrar o beijo entre Hanks e Helen Hunt na chuva, mas preferindo deixar isto para um Top Beijos, atenho-me à cena do adeus ao Wilson, com a garganta apertada aqui...

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2º 2001 – Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, EUA, 1968)


Óbvio que esta é a única lista do mundo em que Kubrick poderia vir depois de um filme como Náufrago (eu avisei), mas só não marquei este filme em primeiro lugar, porque minha história de lágrimas com ele é um tanto quanto anterior a qualquer consciência cinéfila que eu possa ter. Poderia até classificar como minha primeira experiência verdadeira com o cinema, meu primeiro êxtase. Foi por volta dos 10 anos, não memorizei a data exata, mas lembro-me bem de, ainda criança, perder-me em prantos naquela fenda espacial absurdamente alucinógena que o Stan inventou. Uma porrada na minha infância. Uma certeza: eu não passo de pó...

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3º O Rei Leão (Roger Allers & Rob Minkoff, EUA, 1994)


E aqui chegamos ao bendito. Nem quero falar muito para não molhar o teclado do PC, mas a cena com a morte de Mufasa, o pai de Simba, foi das que mais me impactou na vida. Talvez minha primeira experiência concreta de luto, profundamente relacionada à ausência paterna. Semana passada eu apenas confirmei que algumas lágrimas me acompanharão para todo o sempre.

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4º A Felicidade Não se Compra (Frank Capra, EUA, 1946)


Esse poderia entrar até num Top Micos... Porque foi uma vergonha retornar da sala onde o filme foi exibido (no Centro de Convenções da UFPE) até em casa, soluçando incontrolavelmente no decorrer do trajeto (sério, as pessoas olhavam pra mim de um jeito que eu não esqueço). Não dá pra explicar, além de o enredo me fazer chorar praticamente em toda a duração do filme (não só em cenas dramáticas; era James Stewart entrar em cena e eu me encharcar todo), eu simplesmente não consegui secar o rosto por algumas horas depois. Histórico.

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5º Gerry (Gus Van Sant, EUA, 2002)


Ah, esse aqui eu nem preciso comentar, né. É só aparecer aquela estrada na abertura... Ouvir os compassos de Ärvo Part... Olhar aqueles desertos... Ver aquele céu se abrindo ao final... E eu sinceramente nem acho que as lágrimas durante o filme contam tanto! O problema todo veio depois, em 7 dias de rememoração nos quais eu praticamente não conseguia parar de chorar... O período exato da criação. O meu novo Eu. E não se nasce sem lágrimas.

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6º Toy Story 2 (John Lasseter & Ash Brannon, EUA, 1999)


O problema é que este a TV reprisa sempre (e eu sempre faço questão de rever), então logo ele deve estar empatando com O Rei Leão em termos numéricos. No caso, a cena é bem específica: minhas lágrimas são o acompanhamento perfeito para o número musical em que a bonequinha Jessie lamenta o passado, quando foi abandonada por sua dona. Uma certeza: eu não quero crescer...

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7º Os Últimos Passos de Um Homem (Tim Robbins, EUA, 1995)


Com certeza foi depois desse filme que eu assumi a posição de ser totalmente contra a pena de morte. Pouco me importa se Tim Robbins fez pouco mais que um panfleto moral, o fato é que Sean Penn está nele e faz a diferença. Difícil demais para mim suportar sua parte final, este é um filme ao qual não retorno tanto...

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8º A Paixão de Cristo (Mel Gibson, EUA, 2004)


Bom, esse aqui eu nem posso dizer que assisti direito! Foi tanta lágrima, tanta lágrima que eu simplesmente não conseguia enxergar todas as cenas (tenho certeza que perdi alguns momentos com a Belluci). Mas engraçado foi ter que ligar pra minha mãe depois da sessão para confirmar que eu tinha sobrevivido, porque rolava o boato de que tinha gente morrendo nos cinemas com esse filme... É cada lembrança que me assalta...

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9º Amistad (Steven Spielberg, EUA, 1997)



Nada de ET! Spielberg e lágrimas geralmente combinam em mim naqueles projetos metidos à sério que ele inventa (mais uma vez, não entra em jogo a qualidade aqui). Esse foi um filme que minha família simplesmente abandonou na cena do navio negreiro, deixando-me sozinho com meu pranto na sala de estar, diante daquele tremendo realismo e crueza, de toda uma dor que me denunciava certa compreensão do ser humano que eu ainda desconhecia. Outra porrada. ______________________________________________________________________

10º Impacto Profundo (Mimi Leder, EUA, 1998)



Eu juro que não queria avacalhar de uma vez por todas a lista, mas é que não dá, não dá pra deixar de fora do meu Top essa bobagem aqui. O que eu posso fazer se chorei que nem um condenado à morte na cena em que o meteoro se choca com a Terra? (por isso eu consigo entender as pessoas que simpatizam com Melancolia) Minha mãe teve que, literalmente, me segurar na cadeira do cinema para eu não sair correndo e gritando no meio da sala. Um verdadeiro Apocalipse. Uma desgraça. Eu sei, o filme também. Por isso eu choro.