quarta-feira, 17 de novembro de 2010

UMA SÓ SOMBRA




Floresta, Piotr Dumala, 2009.

Dois homens. Dois tempos. Dois espaços. Dois destinos ligados por um sincero e profundo interesse de, com os corpos e sombras em cena, se fazer cinema.

O primeiro longa-metragem do polonês Piotr Dumala, autor consagrado de curtas de animação, é um renovo de esperança. Sua sensibilidade e maestria podem ser sentidos a cada movimento, a cada deslocamento desta relação paterna que o filme acompanha como se estivesse única e perpetuamente condenado a isso. Pai e filho que guardam uma semelhança constrangedora com aquele maior momento de Sokurov, em Mãe e Filho (1997), e que não consigo deixar de guardar como se fosse um verdadeiro prosseguimento àquele, já que mais íntimo do que a própria sequência assinada pelo russo.

Não se explicam os tempos. Se num momento vemos os dois homens vagando pela floresta com vigor e noutro acompanhamos uma agonia fúnebre pela finitude do ancião, não somos levados com isso a determinar existências passadas ou presentes. Os momentos independem de contigüidade para coexistirem como duas realidades próprias, fluidas, unidas em algum domínio que não podemos determinar, mas que se faz sentir pelo ritmo harmônico das imagens.

No contato dos homens eles se fundem
Na latência das carnes se amam
E tornam-se uma só sombra.

Um comentário:

  1. Interessante o paralelo com Sokurov. Aliás "Mãe e Filho" é surpreendentemente pictórico, diria que é pintura filmada, além da grande riqueza filosófica sobre a existência que permeia todo o filme.A Mãe de Pudovkin também é outro clássico belíssimo desse tema. Vou conhecer Dumala. Parabéns pelo bom gosto e sensibilidade.

    Jacineide Travassos

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