quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ANTONIONI, PINTOR

O lado mais curioso da minha experiência pictórica é que, quando pinto, não me sinto como um pintor.

Quando começo a executar estas pequenas pinturas, elas parecem-me imediatamente insuficientes. É por essa razão que pensei também em fotografá-las e depois ampliá-las: até certo ponto, pensei que era inconcebível que fossem obras minhas.



Retrato, Michelangelo Antonioni.

Eu só pintei enquanto criança, mesmo que nessa altura eu só preferisse pintar caras, a da minha mãe e a do meu pai ou a de Greta Garbo. Mas nunca pintei a minha, uma vez que não me posso ver.

Há alguns anos pintei outras caras, as de desconhecidos e de amigos imaginários. Cortei uma dessas pinturas em pequenos pedaços e depois recontruí-a. o resultado foi uma montanha e foi assim que comecei. A partir daí, deixei-me levar pelo entusiasmo. Experimentei tal sensação de liberdade e um sentimento de alívio de já não ter que lutar com problemas ou idéias que quando comecei a pintar senti que nunca mais deixaria de o fazer.



As Montanhas Encantadas, Michelangelo Antonioni.

A alegria de trabalhar, a alegria da tranqüilidade ou do equilíbrio, como Gide definiu.

O processo das “Montanhas Encantadas” consiste totalmente na ampliação. É ampliação que revela em pormenor o material invisível da pintura original. É um processo semelhante ao que surge em “Blow Up”. Além disso, foi uma experiência muito interessante para mim enquanto realizador, mesmo que nunca me tenha ocorrido que tomei parte do mundo da arte, porque não sabia dizer a que forma de arte eu poderia atribuir estes objetos.

Se é verdade que por escrevinhar em pedaços de papel eu escapei do cinema, também é verdade que de alguma forma me aproximei dele através da ampliação fotográfica.



As Montanhas Encantadas, Michelangelo Antonioni.

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Imagens digitalizadas a partir do livro Michelangelo Antonioni: A Investigação, organizado por Seymour Chatman & Paul Duncan (Taschen, 2004).

2 comentários:

  1. Desculpa Nando, o Antonioni pode ser um diretor genial, mas essas pinturas aí não querem dizer nada para mim. Na verdade, elas parecem aquelas figuras de livros de medicina. Gostei mais do depoimento, hehe.

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  2. E quem disse que elas devem dizer alguma coisa? hehe, mas eu te entendo, claro. Particularmente, eu aprecio o Antonioni pintor, óbvio que não se compara ao cineasta, mas é uma investigação bastante válida para até mesmo nos aprofundarmos melhor em seu cinema.

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