quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

DOSSIÊ INFÂNCIA


Ora, esta é uma edição há muito planejada, leitor. É como se tivéssemos arquitetado, com antecedência demoníaca, uma alegre data específica para nossa overdose proposital, para nosso retorno algo improvável às imagens que compuseram e transtornaram a tênue linha de paz, estabilidade e calmaria que vivíamos na infância. Junto a isso, chega-se também à “missão” complexa de comunicar determinadas experiências que tais imagens souberam destacar em nós quando crianças ou até mesmo agora, no final de 2011 / começo de 2012, nos registros de nossas vidas atuais. Reminiscências, permanências, intelectualizações. Nosso extrapolamento aqui presente, ainda que a princípio “espontaneizado” somente a partir do ato de revisão dispensado a todos estes filmes decepados e reagrupados pela rememoração afetiva e intelectual, é um perigo consentido e até mesmo desejado. De algum modo, tocando a ideia inicial de cobrir o maior número de filmes das velhas sessões de cinema da TV – Sessão da Tarde, na Globo, e Cinema em Casa, no SBT, em especial; mas também algumas outras e certamente as insuperáveis exibições em VHS – que dominavam as tardes (e noites) dos anos 90, talvez nos direcionemos contra nosso último editorial (mas talvez não: quase todos os filmes abordados vivem a sua própria unidade de filme isolado da noção de “obra”), desejando atingir aqui um esgotamento e uma hemorragia mortais que, acreditamos, é essencial para compreensão do fenômeno profundo que essas imagens projetadas e gravadas em nossas TV’s causaram a título de trauma – quando a palavra “cinefilia” nada significava – em nossos primeiros contatos com o mundo através da representação.

É portanto neste número que a angústia persiste na alegria do questionamento a respeito de como podemos reencontrar um olhar antigo, ou, mais ainda, sobre como podemos reencontrar a cegueira primordial, a grande clarividência. Como voltar a algumas impressões concretizadas da infância sem pervertê-la? Como a infância pode ser revivida em nós, agora que já vimos demais? Sabemos que um cinéfilo carrega sua identidade dentro de olhos transfigurados em corações insones. Então voltemos à infância desde órgão, voltemos às imagens que o desvirginaram para sempre. Voltemos às imagens que parecem dizer, afinal, com ou sem exagero, tudo ou quase tudo sobre quem nós hoje somos. Bom novo ano a todos.

Edição Especial - #08 Infância

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