domingo, 24 de junho de 2012

ESPECIAL DJIBRIL DIOP MAMBÉTY - FILMOLOGIA

















O “cinema negro” (não no sentido étnico da coisa, mas na modalidade do alcance da visão que terá de ir até a cratera mais profunda dos arquivos cinéfilos para encontrá-lo) sempre sofreu uma espécie de expiação temporal dos círculos que deveriam abraçá-lo. Foi “martirizado” pela consciência da cinefilia europeia e norte-americana (que “contaminou” a paixão pelo cinema por todo o globo), deixando assim um mosaico fortemente ressentido de esferas negras, de cineastas negros (no duplo sentido que a definição legitima: o negro da pele e o negro do desconhecido), de histórias próprias e intransponíveis a qualquer visão minimizadora, pedante ou fascistoide.

Djibril Diop Mambéty tal qual seu compatriota Ousmane Sembène, foi a certidão de nascença de algo maior do que qualquer sistematização global na busca pelos “cineastas universais”. Ambos dominaram a produção cinematográfica de Senegal a partir da segunda metade do século passado. Enquanto Mambéty foi impregnado de sonhos e de uma necessidade de criação permanente ao mesmo tempo que era tomado frequentemente como exemplo de uma marginalidade meticulosamente cultivada, Sembène foi escritor, sindicalista, militante político e ex-combatente. A diferença entre as duas cinematografias se dá pelo sonho de uma nova esperança anti-colonialista (Mambéty) e o sangue da fúria anti-colonialista (Sembène). Para ambos, a autêntica aprendizagem vital estava escondida na miscelânea da vida cotidiana, ao lado de pessoas de países e condições diferentes.

À frente da fome e do obscurantismo, à frente da miséria e da consciência embrionária, Mambéty tem toda essa noção, transforma-a em utilidade cinematográfica, refaz o homem a partir do degradante, escurece-o ao máximo para depois jogá-lo à luz. O “cinema negro” (agora sim, na conotação étnica), de fato, merece esse redescobrir, porque a história africana não é uma história de vergonha, mas uma história de luta, dum eterno embate frente à “civilização branca” – porque o negro jamais foi tão negro quanto a partir do instante em que esteve sob o domínio do branco, e resolveu dar testemunho de cultura, percebendo que a história lhe impõe um terreno determinado, que a história lhe indica um caminho preciso e que lhe cumpre manifestar uma cultura negra, uma cultura própria, local e então, universal. O cinema de Mambéty é, portanto, um dos mais fortes sintomas dessa cultura africana universal, porque acima de tudo, seus filmes são sobre o compartilhar de experiências próprias num local ainda visto com olhos tão maldosos pelo mundo.

Edição Especial - #06 DJIBRIL DIOP MAMBÉTY

ACESSE AQUI

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Algo para mim?