terça-feira, 16 de agosto de 2011

ESPECIAL PHILIPPE GARREL - FILMOLOGIA



Estamos atrasados: quando nos demos conta, o dia 21 de junho havia passado enquanto nossos olhos, por motivos alheios a nós mesmos, permaneciam fechados. O Filmologia fazia ali seu primeiro aniversário, não alardeado nem comemorado e nem sequer mencionado em nossas páginas. Quando resolvemos empreender essa ideia – ainda hoje, podemos dizer, arriscada e apaixonante –, jamais pensamos no quanto é difícil assumir e reassumir dia-a-dia, mês-a-mês uma posição algo política que, desde o começo, tentamos manter: não privilegiar os mesmos nomes e não dedicar atenções especiais somente a cineastas cujas linhas de pensamento se entrelaçam em golpes de igualdade e em definições de “bom ou mau gosto”. Gostamos, basicamente, da discrepância, do exagero na quebra das edições e de ideias, de certa pluralidade que não pensa em estabelecer limites. É isso o que nos cobra uma atenção quase doentia na escolha de nomes e temas a serem abordados dentro dessa linha de não adotar ninguém fora do tempo de exposição de um novo número, embora nossos corações sempre prefiram certas coisas a outras. É da natureza das emoções, transformar, todas elas, em contradição. Se nesse primeiro ano passamos por emoções diversas, de Kaurismäki, Teshigahara, Khouri, Tarr, Craven e Deren, estes cinemas de presenças e de figuras que encaram sua existência material em níveis de percepção bem peculiares, então é hora de nos voltarmos, literalmente, para o mundo dos espectros, para a presença de reminiscências, para o que sobra do signo e do referente. Precisamos tocar o amor.

Nosso presente número carrega algumas observações a respeito de um cinema que sabe o estrago que faz ao roubar os instantâneos da vida humana e revelá-los a partir de recortes e de representações em anteparos de um esbranquiçamento essencial para a projeção. Um cinema que, em seu íntimo, o mesmo de seu criador, sabe-se um tanto criminoso. O cinema de Philippe Garrel. No decorrer de nossos contatos íntimos – o que gera sempre saudáveis olhares distintos – com o cinema de Garrel, pudemos enxergar segredos que, como o próprio cineasta chegou a afirmar numa entrevista, são revelados com um senso e uma clareza de destruição do amor e da vida muito diretos, porque ambas as coisas são incompreensíveis. Tais segredos, em Garrel, estão todos ligados aos primórdios das imagens de intimidade, locais onde nem sempre a luz consegue tocar com firmeza – ela surge sempre em quantidade insuficiente ou demasiado excessiva – para nos evidenciar o que se passa. Pois é na intimidade, na autobiografia, nos momentos em que a película se torna página de diário, nos delírios de suavidade e de tristeza, nos registros e nas capacidades de revelação da luz e da sombra através da impressão em filme, que para Garrel nasce o amor, força gravitacional que, em paralelo, é precisamente aquilo com o que podemos nos munir para representar a incompletude dos abismos e a vastidão do Invisível que nos influencia.

Edição Especial - #06 PHILIPPE GARREL

ACESSE AQUI

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