terça-feira, 1 de setembro de 2009

AMARGA ESPERANÇA


Amarga Esperança, Nicholas Ray, 1948.

Novo post no MAKING OFF.

A produção é baseada em um livro de Edward Anderson e conta a história do romance entre os jovens Bowie e Keechie.

Ao fugir da prisão com dois outros comparsas, o rapaz acaba conhecendo a moça em um refúgio, e logo se cria uma identificação entre eles. Ele quer provar sua inocência e ter uma vida calma com a namorada, mas é convencido pelos companheiros a praticar uma série de crimes passando a ser considerado pela polícia o líder do grupo.

Após um assalto a banco com os outros fugitivos, Bowie escapa e acaba se casando com Keechie. Mas as coisas nem sempre funcionam para o casal, pois o jovem é procurado não somente pela polícia, mas também pelos ex-companheiros que querem sua ajuda para um novo trabalho.

Como manter o amor diante da violência? Como preservar a esperança?

Os responsáveis pela R.K.O. esperaram muito tempo antes de distribuir esse filme, que, apesar do êxito que teve na Europa, chocou o público norte-americano e deu um prejuízo de 445.000 dólares à empresa.

Parece difícil entender a incompreensão do público americano diante desse filme, principalmente porque Nicholas Ray lida com uma trama profundamente americana, enraizada no que havia de mais problemático e crítico em seu país naquele período. Um filme americano que não foi recebido pelos seus.

Hoje, para mim, é ainda mais difícil entender o contundente descaso que o filme encontra junto aos que pensam cinema, e que o celebram apenas como ‘o primeiro filme de Ray’. Sem dúvida, isso deve ser lembrado, mas há muito mais... Há Cinema na mais pura concepção do termo, precisando mais que nunca ser recebido pelos seus.

Não foi por acaso que Godard elegeu Nicholas Ray como a expressão mais pura do Cinema. Na verdade, seu Acossado, que sobrevive como uma grandiosa e original releitura do cinema clássico americano, encontra em Ray e especificamente em Amarga Esperança, um dos pontos nevrálgicos de inspiração criativa. O casal de Godard já respirava no casal de Ray, assim como respiraria no frescor do novo cinema americano que viria com Bonnie e Clyde.

Na fragilidade desse casal, encarnado pela jovialidade de Granger e O'Donell, há toda uma fraqueza da própria condição de Cinema como Godard viria enxergá-la. Nicholas Ray usa e abusa desses atores, pedindo-lhes o máximo de inocência no olhar, para construir um Cinema que não é nada inocente, um Cinema que conscientiza o espetáculo de uma forma como a América ainda não estava pronta para encará-lo.

Uma das frases ditas ao desesperado protagonista no fim de sua jornada pode mesmo ser vista como a máxima de toda a carreira do desesperado Cinema de Nicholas Ray:

“Não te posso vender esperança quando não há nenhuma.”

Um comentário:

  1. Enquanto isso, Nando, eu espero o filme chegar por aqui...
    Muitíssimo obrigado por ter postado lá no MKO. Precisamos, sempre, de filmes como os do Ray, q são mesmo maiores q a vida.

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