sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O SOM DA ETERNIDADE



A melodia continua para sempre.
Enquanto o coração bater e os pulmões respirarem, você pode cantá-la para sempre.
Por isso os cadernos são cheios dessas melodias. Elas não significam nada.
Não são feitas para serem apresentadas. Nem para serem aplaudidas.
O autor não deve se curvar durante o aplauso. Não há necessidade disso.
Isso é apenas a respiração natural. Uma coisa íntima. Mas não totalmente.
É como a comunicação entre dois amigos.
Arvo Pärt


Tudo começou há um ano atrás, junto com Gerry...

Tudo se completou há algumas semanas, quando o amigo Renan, teve o cuidado de atentar para os créditos do filme e descobrir que Arvo Pärt estava lá... Mandar-me apenas a música para eu ouvir... E pela audição, pura e simplesmente, tocar novamente na coisa...

Ontem, fui abençoado pelo documentário 24 Prelúdios Para Uma Fuga (Dorian Supin, 2002), que em menos de 90 minutos impregnou minha alma com o conhecimento e a sensibilidade de um compositor que entra definitivamente no meu panteão musical particular, chegando mesmo a dar as mãos à Beethoven, com toda a humildade.

Estoniano (nascido em 1935, na Letônia), Arvo Pärt desenvolveu uma obra sem paralelos, inserida no gênero do ‘minimalismo religioso’, com melodias que se baseiam em repetições hipnóticas, no que ele chama de tintinnabuli (do latim, pequenos sinos).

Ao vermos o documentário, constatamos que a palavra realmente não é o forte de um homem que pensa musicalmente. É maravilhoso vê-lo corrigir o ensaio de uma orquestra dizendo: Esta nota deve ter algo como música, não sei o que é, mas precisa ter. Repetidamente ele afirma não saber o que quer dizer com sua música, mas que há uma idéia perfeita que ele busca alcançar, profundamente vinculada à presença de Deus. De suas limitadas e sinceras palavras, talvez as mais inspiradas sejam aquelas que comparam a nota musical à folha de uma árvore, quando ele ressalta o valor de uma folha, que para a natureza é tão importante como a flor.

Em outro momento, quando revela desejar a pausa que dure toda vida, a nota que a alma cante para sempre, me fica muito claro que a obra de Arvo Pärt almeja o domínio da eternidade.

Se a eternidade tiver som, será como o de Arvo Pärt.

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Não poderia deixar de oferecer a todos que por aqui passam os olhos, um brinde aos ouvidos, e mais, à alma. O vídeo abaixo, com a música Spiegel Im Spiegel (1976), é a cena de abertura de Gerry (Gus Van Sant, 2002), onde podemos ouvi-la como trilha.



Eu gosto quando nada acontece.
Arvo Pärt

Um comentário:

  1. Ha, fui citado ali, ó! logo ali! haha

    De alguma forma, Arvo Pärt se sentirá homenageado!

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