sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

GONZAGA - DE PAI PARA FILHO

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Gonzaga - de Pai Para Filho (Breno Silveira, 2012)

Nenhuma inocência aqui. A assinatura de um diretor que traz no currículo um filme como Dois Filhos de Francisco (2005) delimita perfeitamente o terreno almejado pela cinebiografia de Luiz Gonzaga e seu filho Gonzaguinha: exploração de lágrimas, cifras financeiras e mobilização massiva de uma nação que, a cada dia, aprofunda sua admiração por figuras saídas do povo, do lugar comum e cotidiano, rumo ao sucesso e reconhecimento trazidos pela fama. Justiça seja feita, com os personagens tema de Gonzaga, Breno Silveira tem, pelo menos, um material bruto digno de memória e valoração histórica. Personalidades que não se valerão do filme como subterfúgio para alavancar carreira, pois já sedimentadas como mitos quase intocáveis de um imaginário popular cultural que não teme o desafio do tempo. E se algum mérito há no didático tratamento que Breno mais uma vez oferece — didática que reconhecemos eficaz, transparente e funcional —, ele se encontra nesta (re)construção que seu filme busca da imagem-mito, pouco interessada em alfinetar o que já foi canonizado, mas disposta a recontar o que não exatamente é celebrado da humanidade geralmente esquiva dos holofotes.

O ponto de partida que norteia o enredo de Gonzaga, na jornada heroica de um filho que almeja completar a imagem paterna para além das ilusões vendidas no consumo midiático, amarra algumas pontas soltas deixadas por Breno Silveira em trabalhos anteriores que legaram observações muito semelhantes e coerentes para o universo melodramático que vem construindo, filme a filme de sua carreira. Aqui, o desespero de um Gonzaguinha que anseia por um pai maior do que uma manchete de jornal ou sucesso nas rádios, dá o tom de um filme que, sem grandes pretensões, igualmente procura preencher as ausências de seu multifacetado protagonista. Daí a necessidade de 6 atores diferentes para encarnar a impossibilidade que se tornou Luiz Gonzaga, em diversos períodos de sua vida, sem perda alguma de fluidez ou continuidade. Por mais que seja indecente pensar na concentração de uma vida sobre duas horas de projeção, Gonzaga assume a tarefa com destreza e jogo de cintura para não confundir aquilo que o público anseia ver: uma narrativa direta.

Ainda que a avaliação de uma obra não proceda pelo nivelamento rasteiro aberto pelos seus contrastes diante de outros próximos em gênero e forma, é preciso reconhecer que o trabalho de Breno não deve muito ao que habitualmente vemos em outros exercícios biográficos do cinema recente. As probabilidades de encontrarmos filmes equivalentes ao seu na próxima lista do Oscar são certeiras. E por mais que nos recusemos a fazer disto um parâmetro válido de observação, importa lembrar que um filme como Gonzaga não deixa de sofrer as influências de um contexto que praticamente o obriga a ser como é. Contexto de premiações, de bilheterias, de sucessos televisivos, de públicos que pagam exatamente para chorar, que aceitam a exploração emocional e por meio dela também exploram todo um sistema de produção. Que fique claro: não há nenhuma vítima aqui. Nesta doentia relação entre filme e público, afundada a cada novo sucesso de marketing, somos todos responsáveis pela perpetuidade de um sistema que tende, cada vez mais, a se contentar com a expectativa cumprida, com a fórmula bem equacionada; tudo isto que Gonzaga é, sem vergonha alguma.


[Texto publicao no SITE FILMOLOGIA]

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