segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

TOP LIVROS 2012



1º Lugar: Um Sopro de Vida (Clarice Lispector)
Não, eu não estou me repetindo em meus Tops literários. Nada posso fazer se a autora que mais admiro continua me surpreendendo ano após ano, página após página. Há tempos iniciara a leitura deste seu livro póstumo, aquele que mais próximo chega de Água Viva, mas nunca ousei concluí-lo para não ter que obedecer ao pedido que Clarice deixou logo na parte introdutória: “Quando fechardes as últimas páginas deste malogrado e afoito e brincalhão livro de vida então esquecei-me.” Não poderei. Terei de traí-la em seu desejo íntimo, se não posso arrancar da memória os sentimentos em mim despertados por seus diálogos quase socráticos. Um livro sobre a vida, sobre a criação do verbo, um livro que me responde o troco da alegria que foi ver nascer o meu próprio rebento (A Modernidade em Diálogo) e me leva a desejar mais destas emoções, de tudo isso que me justifica entre as letras e me faz nelas continuar crendo. Um livro-milagre sobre mim.

2º Lugar: Com Os Meus Olhos de Cão (Hilda Hilst)
Também não me repito com Hilda, que permanece esta pedra no caminho, este sorriso hierárquico a me soterrar, seja com a prosa ou o verso, seja na hibridez de que se forma esta sua nada tímida novela. “Não sou nem carne e sangue/ Nem poeira.” Sou este obcecado sofredor que insiste em sua literatura para não abandonar a fé inclusive pelo que não acredita. Livro imediatamente posterior ao meu favorito Uma Obscena Senhora D., neste breve rompante, Hilda prossegue enfurecida em sua relação com Deus, com o mundo e consigo própria.  Desses textos que me lembram tão profundamente de minha humanidade que quase me transformam em bicho.

3º Lugar: O Deslumbramento (Marguerite Duras)
Que este seja o Top mais feminino por mim já elaborado, não resta dúvidas. Mas se ele fosse todo formado por escritores homens, o fato nem chamaria atenção; por isso deixo o sexo de lado para pensar nas obras que mais me marcaram em 2012, sem ignorar que há muita ‘macheza’ nestas mulheres todas. “Nunca se lhe vira uma lágrima de moça.” É assim descrita a protagonista Lol V. Stein, retomada por Marguerite em seu cinema e literatura posteriores. Núcleo de um universo notavelmente autoral, O Deslumbramento torna-se não apenas o melhor título que já provei desta mulher (que, não por acaso, assinou o melhor filme a que assisti também em 2012), mas um dos mais inquietantes no registro de uma linguagem que desafia a memória e minha tão cara relação com o Sagrado. Assim como Lol Stein, eu me descubro a mim mesmo quando “... um dia esse corpo doente se mexe no ventre de Deus.”

4º Lugar: Ocupado Demais Para Deixar de Orar (Bill Hybels)
Se um livro possui o tempo certo para chegar ao seu leitor, posso dizer que este veio até mim com um propósito muito especial. Mais do que um manual de intercessão, o apelo de Bill Hybels é por um cristianismo sincero, vivido a cada minuto de vida, a despeito do cotidiano e de todos os compromissos que tentam nos roubar do tempo e da confiança em Deus. Para um 2012 tão atropelado que, inclusive, não me permitiu muitas leituras completas (e um ano vindouro que promete ser bem mais complicado nos meus relógios...), este livro foi a resposta que eu precisava para não me esquecer de que a oração é uma coisa que nasce no interior da alma e chega aos céus, não importam as circunstâncias. Seja num período reservado com os joelhos no chão, seja numa breve súplica em meio a qualquer atividade do dia-a-dia, Deus nos espera com o ouvido atento, desejoso de que lembremos sua constante presença. Sou muito grato por ter sido encontrado por este livro.

Menção Honrosa: Cinema de Garagem – Um Inventário Afetivo Sobre o Jovem Cinema Brasileiro do Século XXI (Org. Dellani Lima & Marcelo Ikeda)
Lido durante a organização dos pensamentos para um texto que eu mesmo assinaria com o amigo Rodrigo Almeida (e que veio a integrar a outra coletânea Cinema de Garagem, catálogo oficial da Mostra homônima patrocinada pela Caixa/RJ, com curadoria dos mesmos autores), este pequeno livro-de-garagem foi um renovo para meu fôlego crítico, bastante afetado no correr de 2012. Foi uma publicação que, além de mapa cinéfilo ou diário íntimo, serviu-me para entender um pouco mais do meu próprio lugar na atual geração de espectadores encontrada pelo cinema, igualmente formadora deste cinema. Compilação de textos vigorosa e cheia de juventude, posso culpa-la também pela coragem que me deu de desengavetar algumas coisas que não podiam mais esperar. E que 2013 venha.

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