segunda-feira, 26 de abril de 2010

REGIÃO DE ÓDIO (THE FAR COUNTRY)


Região de Ódio (The Far Country, Anthony Mann, 1954)

Especial Anthony Mann - Multiplot!


Novo post no MAKING OFF


Em vários momentos importantes de Região de Ódio, vemos o personagem de James Stewart procurar caminhos mais longos para chegar ao seu objetivo. Seja pela insegurança que os atalhos oferecem ou simplesmente pra fazer birra com a mulher que está paquerando, ele nunca privilegia o menor tempo em detrimento de sua comodidade e sobrevivência. É paradoxal que Anthony Mann, na maneira como ele se dedica a conduzir sua narrativa (e isso desde seus primeiros filmes), faça exatamente o oposto, trilhando os maiores e mais longos caminhos discursivos através de brechas estreitas abertas por sua câmera. Enquanto Jeff Webster (o grande Jimmy) trata o tempo com despretensão, ao ponto de seu velho companheiro de viagem perguntar se algum dia na vida eles chegarão a um lugar que os satisfaça e realize seus sonhos, Mann lapida o tempo fílmico a um nível onde tudo se torna atalho, onde cada imagem ou corte parece ultrapassar a duração do enredo alcançando sucessivos e muito bem sucedidos momentos de intensidade dramática, afinal, o drama é o lugar onde os sonhos de Mann se satisfazem.

É impressionante a maneira como vemos desfilar uma infinidade de situações, reviravoltas e sentimentos, assim como paisagens, cores e formas, em espaços fílmicos tão breves (não canso de me espantar com isso em Mann); pouco mais de 90 minutos em suas mãos exprimem o valor do épico, do inefável, abstraindo todas as leis naturais e possibilitando uma espécie de ontologia do novo, de descobrimento do mundo. Ora, todo mundo sabe que o western é um gênero que privilegia pontos de partida sobre o desbravamento de territórios inóspitos e a conquista/disputa de novas regiões; e é isso mesmo que encontramos em Região de Ódio, deslocando-se os velhos cenários do oeste e alcançando as nevadas terras (LINDAS!) do norte do Alasca para a histórica corrida do ouro (o filme se passa no final do século XIX).

Mas colocadas essas primeiras linhas, demos uma olhada mais atenta no negócio soberbo que Mann fez no clímax final deste filme (dessas sequências poderosas que todos por aqui gostam de parar e ficar deixando a baba escorrer). Jimmy, que começa o filme como um assassino fugitivo da lei, torna-se a última esperança de uma gente sem lei e território estabelecido que está vendo o ouro conseguido com muito esforço ser roubado por um bando de sacanas que estão doidinhos pra matar nosso herói – e essa retomada de caráter dele é mais uma vez típica do perfil padrão no herói trágico.

O duelo final começa com um som. Aqui entre nós, um som de petrificar cada músculo que temos. O sininho que Jimmy carrega consigo por onde quer que vá, pendurado agora em seu cavalo vazio, pouco depois de ter sido alvejado por tiros e todos acharem que ele havia desistido de qualquer luta. Um momento de assombração. Ver o atravessar deste cavalo, que pouco antes carregara o corpo quase sem vida de nosso herói e fizera do sino o som perfeito da morte, é agora um som de redenção, de restauração da esperança (e a entrada em cena da esperança é uma das coisas que melhor distingue o cinema de Mann nos anos 50 dos 40). E depois disso... Ah, só vendo pra crer! Um digníssimo balé de imagens que eu não sou idiota de tentar descrever.

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