quinta-feira, 2 de julho de 2009

SESSÃO DISSENSO



Figures in a Landscape (1970) encena uma fuga sem motivo esclarecido, num exuberante cenário montanhoso. O enredo a princípio é absurdo. Dois homens fogem (do quê?), um helicóptero os persegue (por quê?), e a paisagem é de uma opacidade grandiosa, intransponível. Mas em Losey nenhuma paisagem é infra-social, e desde o início percebemos a não-gratuidade do jogo. Figures é um momento de depuração, de canalização da experiência rumo a seu núcleo. Os eventos vão ficando cada vez menos imprecisos e mais exatos, as ações se educam no discernimento do que é vital e do que é insólito na narrativa. Há um plano-seqüência que começa com o helicóptero sumindo no horizonte e os dois fugitivos (Robert Shaw e Malcolm McDowell) despontando no topo de uma montanha, vindo em direção à câmera, que passa a acompanhá-los com travelling. Os personagens conversam, fumam, andam, descansam, existem. A câmera anda, pára, prossegue, respira. Em Losey, a vida de um homem, assim como o mundo que a comporta, é um surgimento. Ele oferece um espaço para os atores, que se tornam hospedeiros de uma força e de um movimento convergentes, deflagradores de um estágio crítico na posição do homem face à natureza e aos outros homens.

LUIZ CARLOS OLIVEIRA JR.
(texto completo aqui)

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