terça-feira, 30 de junho de 2009

A VISÃO ENFRAQUECIDA


Nostalgia, Andrei Tarkovski, 1983.

A visão enfraquecida – meu poder,
Duas setas invisíveis de diamante;
A audição falha, cheia de trovoadas passadas
E de murmúrios da casa de meu pai;
Músculos endurecidos que se vergam
Como bois cinzentos arando o campo;
E à noite, por detrás de meus ombros
Não mais cintilam duas asas.

Sou uma vela consumida no festim.
Colhe minha cera ao alvorecer,
E esta página te contará um segredo:
Como chorar e onde ser orgulhoso,
Como distribuir o último terço
De prazer, e tornar fácil a morte,
E então, ao abrigo de um teto qualquer,
Brilhar, como uma palavra, com luz póstuma.


ARSENI TARKOVSKI

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