sábado, 25 de julho de 2009

O FAZER DA FLOR


Minha Querida Dama, George Cukor, 1964.

O processo de escrever é todo feito de erros – a maioria essenciais – de coragem e preguiça, desespero e esperança, de vegetativa atenção, de sentimento constante (não pensamento) que não conduz a nada, não conduz a nada, e de repente aquilo que se pensou que era ‘nada’ era o próprio assustador contato com a tessitura de viver e esse instante de reconhecimento, esse mergulhar anônimo na tessianônima, esse instante de reconhecimento (igual a uma revelação) precisa ser recebido com a maior inocência, com a inocência de que se é feito. O processo de escrever é difícil? Mas é como chamar de difícil o modo extremamente caprichoso e natural como uma flor é feita.
Legião Estrangeira
CLARICE LISPECTOR


E se escrever é viver, viver também é um processo de erros.

Não ser conduzido a nada. Mas chegar na ‘coisa’.

Eu preciso do momento.

Sentir.

Que eu seja a flor.

2 comentários:

  1. Nossa. Ler Clarisse é epifânico!
    Lembro de uma parte no livro a Maçã no Escuro que, se o livro já não tivesse me arrebatado antes, dessa parte eu não escaparia...
    Ela descreveu tão precisamente o processo de escrever, nossa... eu reconheci cada palavra, cada sensação, cada dificuldade!
    O que falta então? Tem-se a experiência, tem-se a vontade, tem-se papel e caneta...

    e, assim como na vida, o que fazer disso tudo?

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  2. Bela pergunta!
    O que fazer com isso tudo que pulsa em nós?
    Como não explodir sobre o papel? Ou melhor, como explodir da melhor forma?
    Estamos juntos nessa procura, Renan...

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