quinta-feira, 29 de abril de 2010

EM MEMÓRIA


Hoje trago à memória os 30 anos de despedida do mestre. Não vivo esta data como o aniversário de 13 de agosto, mas não há como calar o respeito que me toma num dia assim. Preferindo guardar uma espécie de silêncio, transcrevo a seguir o final do prefácio escrito por François Truffaut no celebrado livro de entrevistas. Palavras que sempre me fazem chorar...

Em 2 de maio de 1980, dias após sua morte, rezou-se uma missa numa igrejinha de Santa Monica Boulevard, em Beverly Hills. No ano anterior, na mesma igreja, a despedida era para Jean Renoir. O caixão de Jean Renoir ficou diante do altar. Lá estavam família, amigos, vizinhos, cinéfilos americanos e até simples passantes. Com Hitchcock foi diferente. O caixão estava ausente, tendo tomado um rumo desconhecido. Os presentes, convocados por telegrama, eram anotados e controlados na entrada da igreja pelo serviço de segurança da Universal. A polícia mandava que os curiosos se dispersassem. Era o enterro de um homem tímido que se tornou intimidante e que, pelo menos dessa vez, evitou a publicidade que não podia mais servir ao seu trabalho, um homem que desde a adolescência se exercitara em ‘controlar a situação’.

O homem estava morto, mas não o cineasta, pois seus filmes, realizados com um cuidado extraordinário, uma paixão exclusiva, uma emotividade extrema disfarçada por um domínio técnico raro, não deixariam de circular, distribuídos mundo afora, rivalizando com as produções novas, desafiando o desgaste do tempo, confirmando a imagem de Jean Cocteau ao falar de Proust: “Sua obra continuava a viver como os relógios no pulso dos soldados mortos.”

Um comentário:

  1. “Sua obra continuava a viver como os relógios no pulso dos soldados mortos.”

    Coisa linda.

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