sexta-feira, 5 de junho de 2009

A ARTE, A FÉ, A VIDA

A arte se dirige a todos, na esperança de criar uma impressão, de ser sobretudo sentida, de ser a causa de um impacto emocional e de ser aceita, de persuadir as pessoas não através de argumentos racionais irrefutáveis, mas através da energia espiritual com que o artista impregnou a obra.

(...)

O artista é sempre um servidor, e está eternamente tentando pagar pelo dom que, como que por milagre, lhe foi concedido. O homem moderno, porém, não quer fazer nenhum sacrifício, muito embora a verdadeira afirmação do eu só possa se expressar no sacrifício.

(...)

Na ciência, quando ocorre o momento da descoberta, a lógica é substituída pela intuição. Na arte, como na religião, a intuição equivale à crença, à fé. É um estado de alma, não um método de pensamento. A ciência é empírica, ao passo que a criação de imagens é regida pela dinâmica da revelação. (...) A arte não raciocina em termos lógicos, nem formula uma lógica do comportamento; ela expressa o seu próprio postulado de fé.

(...)

Creio que um dos mais desoladores aspectos da nossa época é a total destruição na consciência das pessoas de tudo que está ligado a uma percepção consciente do belo. A moderna cultura de massas, voltada para o ‘consumidor’, a civilização da prótese, está mutilando a alma das pessoas, criando barreiras entre o homem e as questões fundamentais da sua existência, entre o homem e a consciência de si próprio enquanto ser espiritual. O artista, porém, não pode ficar surdo ao chamado da beleza; só ela pode definir e organizar sua vontade criadora, permitindo-lhe, então, transmitir aos outros a sua fé. Um artista sem fé é como um pintor que houvesse nascido cego.

Esculpir o Tempo, ANDREI TARKOVSKI

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Algo para mim?