sexta-feira, 5 de junho de 2009

A CICATRIZ


A Cicatriz, Krzysztof Kieslowski, 1976.

O primeiro longa-metragem de Kieslowski.

Sobre o muro que divide a ficção do documentário, uma narrativa ecologicamente atual. Uma fábrica a ser construída num espaço da natureza. Um vilarejo em risco. O inevitável desmatamento. No meio disso, um profissional que precisa enfrentar os cidadãos do lugar. Um profissional que é homem. E que nesse lugar carrega alguma amarga lembrança do passado.

Uma terra ferida.

Um homem ferido.

Cicatrizes que se imprimem antes de tudo na imagem.

É incrível o apuro que Kieslowski alcançou marcando por todo o filme, as imagens com riscos verticais, de árvores, pessoas, grades, e tantos outros elementos que laceram a tela.

A imagem ferida.


Um filme frio.

Confesso que A Cicatriz não me tocou como outras criações do autor, mas acho que sob tal temática, a frieza humana seja a emoção mais coerente a ser transmitida.

Na última cena (também marcada pela vertizalidade do relógio, da porta e da iluminação que por ela penetra), palco dos créditos finais, o homem brinca com seu filhinho despreocupadamente. Nela, um momento de calor. Talvez porque o bebê seja o único que ainda não traga marcas. O único em todo filme que desconheça uma ferida.

A inocência cura.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Algo para mim?