sexta-feira, 5 de junho de 2009

QUARTO 666


Quarto 666, Wim Wenders, 1982.

Pois é, continuamos em 1982...

Ano que pelo visto marcou uma fossa existencial para Wim Wenders e que fez do cara o gênio do ano! A preciosa invenção de Quarto 666 é outra das grandes surpresas que tive nos últimos dias partindo do querido cineasta alemão. Com uma idéia na cabeça e uma câmera na mão (ou melhor, num tripé) o camarada conseguiu injetar ainda mais reflexão na minha vidinha, comprovando que a pergunta certa é melhor do que qualquer possibilidade de resposta definitiva.

Durante 2 dias consecutivos, Wenders reuniu cineastas de todo o mundo durante o Festival de Cannes e no único quarto de hotel desocupado da região (porque ninguém quis se hospedar no 666?) abandonou esses autores, um por um, por 10 minutos, no ambiente com uma câmera, um microfone, uma TV ligada, e a pergunta que não quer calar:

“O Cinema continuará a existir como forma de arte? Ou estamos testemunhando seu fim? Ele será substituído por outra coisa como a TV ou outra forma de imagem gerada eletronicamente?”

Eis a lista dos cineastas entrevistados: Jean-Luc Godard; Paul Morrissey; Mike de Leon; Monte Hellman; Romain Goupil; Susan Seidelman; Noel Simsolo; R.W.Fassbinder (três semanas antes de sua morte!!!); Werner Herzog; Robert Kramer; Ana Carolina; Mahroun Bagdadi; Steven Spielberg; Michelangelo Antonioni (um ano antes de seu derrame); Yilmaz Güney. É, pelo visto o quarto realmente se mostrou apocalíptico para alguns deles...

Bem, impossível tecer maiores comentários sobre o filme. Essa é uma experiência para ser vivida mesmo, não dá pra comentar (já vi 2 vezes, além da versão comentada por Wenders 20 anos depois). Quero apenas fazer graça com a cara do Spielberg, diretor que já admirei demais e que me pareceu o mais encurralado (em seu primeiro filme uma profecia?) dos diretores dentro desse quarto. O cara simplesmente esqueceu de falar de cinema para ficar falando de Hollywood! Impossível não perceber uma expressão de culpa em seu olhar, seus gestos, quando ele assume ser seu meio, um dos maiores responsáveis pelo fim do cinema...

Findo com as melhores palavras do filme, que podem não ter respondido a pergunta, mas que ofereceram muito mais do que o próprio Wenders poderia esperar:

Filmes são criados quando não tem ninguém olhando. Eles são o Invisível. O que não se pode ver é o Inacreditável e a tarefa do cinema é mostrar isso. Mostrar o que não se pode ver.
Jean-Luc Godard

Pois é, vou continuar com Wim Wenders...

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