sexta-feira, 5 de junho de 2009

AUSTRÁLIA (VISTA A CAMISA PRA VER)


Austrália, Baz Luhrmann, 2008.

OK, eu sei que para muitos já perdi a credibilidade ao comentar um filme que tenha alguma coisa a ver com Nicole Kidman, mas por favor, acreditem: venho até vós com a imparcialidade que me resta, deixando apenas um parecer pelo filme que eu aguardei com tanta ansiedade e já fui correndo conferir...

Quando vi os primeiros cartazes, a lembrança de ...E O Vento Levou foi imediata (me alegrei), quando vi o primeiro trailer, a sombra de Pearl Harbor foi tenebrosa (me apavorei)... Quando li as primeiras críticas, todas péssimas, apontando os clichês, alçando-o como um dos piores de todos os tempos (me desesperei) e quando li outras resenhas após a estréia, mais razoáveis, meio que no espírito do que Luhrmann desejou fazer (me esperancei), enfim: entre tantos quandos só me restou uma coisa: manter a cabeça fria para concluir uma opinião só minha do filme em questão...

E afinal, estamos falando de Baz Luhrmann! Ninguém melhor do que esse senhorzinho para merecer o título de “AME OU ODEIE”!!! Praticamente todas as obras dele (numa delicada carreira de apenas 3 filmes antes desse) se apropriaram desse jargão, e esse que vos escreve vestiu a camisa do AME para todas...

VESTINDO A CAMISA. Essa é a idéia que deveria estar estampada já no cartaz de Austrália! Será que a renca de críticos que blasfemou contra a nova diversão do Baz nunca tinha visto nada dele antes??? Caramba, era só uma questão de vestir a camisa!!!! E como eu suspeitei desde o princípio (graças às minhas antenas biônicas) eu fui bem vestido...

O Mágico de Oz, Rio Vermelho, Assim Caminha a Humanidade, Lawrence da Arábia... nossa, é referência que não acaba mais! Baz brinca com todo o imaginário épico da cinematografia americana para “colar” esse seu novo filme. Isso mesmo: COLAR! Mas que ninguém me entenda mal! Algumas das maiores obras do século XX se valeram dos princípios da colagem... E todo o filme do Baz traz essa intenção explícita! Acho que quem se irritou com o excesso de melodrama não conseguiu entender ou farejar todo o excesso de ironia e bom humor com que Baz lidou nessa empreitada. Caramba, como eu me diverti nesse filme! Dei risada pra valer, conseguindo enxergar muito bem a carinha de malandro do Baz me pedindo: apenas entre no jogo... Toda a introdução do filme (uns 15 minutos) ainda traz um frescor de Moulin Rouge, pelo ritmo da edição, da narrativa, da apresentação dos fatos, e essa leveza (sei que alguns acham um peso) vai se atenuando durante toda a primeira metade, até ele erguer as mãos, se render e gritar: me deixem fazer meu melodrama!!!

Aiaiai, o cara me cativou. Li por aí que era o sonho dele fazer uma coisa dessas, desde pequeno. Um musical, e um épico dramático, nos moldes do cinema americano de antigamente, mas com um interesse por transformar um pouco as coisas. Moulin Rouge cumpriu os objetivos, mas reconheço que Austrália não transformou quase nada... E aqui começo a mostrar que realmente estou ambicionando ser imparcial...

Lá pela metade do filme, para ser exato, depois de 100 minutos de projeção (eu contei), a trama se encerra... É isso: o filme acaba! Todos os problemas se resolvem e parece que estamos prontos para levantar e sair da sala de cinema... Puxa vida, acho que se eu tivesse saído nem ía precisar pensar nos defeitos do filme... Mas é isso mesmo, a última hora do filme é completamente desnecessária, não acrescenta nada, e pior, tira muito dos pontinhos que ele tinha feito... Enfim, por essas tantas acabei tirando a camisa...

Bem, como o post tá ficando comprido (que nem o filme), acho que devo parar por aqui, antes que vocês se dispam do resquício de confiança que dedicaram ao me ler na minha pretensa imparcialidade, me deixando apontar só mais uma coisinha (não, não vou nem comentar nada da Nicole hoje... pelo menos hoje), na verdade, aquele que é o maior problema do filme pra mim, e nem só desse, mas de praticamente toda a cinematografia épica da Hollywood das últimas décadas...

A artificialidade dos efeitos digitais... Meu Deus, como é desconfortável perceber no filme inteiro aquela sombra digital se intrometendo em todos os cenários, nos ambientes, nos objetos, na iluminação e até mesmo nas pessoas, pensando que no excesso da perfeição eles estão se aproximando da nossa maravilhosa e imperfeita realidade. De Gladiador (ótimo) a Tróia (bomba), de King Kong (ótimo) a O Capitão Sky (lixo), não há filme que escape dessa breguice digital...

No dia que eu vir alguém fazer o que Stevens fez em Assim Caminha a Humanidade e Lean em Lawrence da Arábia, com tanta naturalidade e bom manuseio dos efeitos disponíveis eu me calo, tiro toda minha roupa e saio pelado do cinema ao estilo Teorema reconhecendo que ainda se faz cinema como antigamente...

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Tenho a leve impressão que eu viajei nesse post... Mas tudo bem, é influência do Baz...

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