sexta-feira, 5 de junho de 2009

DA MORTE E DOS VERSOS


As Horas, Stephen Daldry, 2003.

Continuando minha jornada de leitura no ano mais poético que já vivi, concluo a leitura da Poesia reunida de Hilda Hilst que compreende os anos entre 1959-1979. Assim que a descobri e fui atravessado por A Obscena Senhora D, fui correndo nas bibliotecas ver o que tinha disponível pra comprar só os mais inacessíveis. E que milagre encontrar naquele abençoado acervo essa obra que já pode ser considerada rara, pois fiz uma busca exaustiva na net e não encontrei em canto nenhum essa edição que tive em mãos. Vários dos títulos presentes na organização têm sido lançados individualmente, mas boa parte permanece relegada às edições mais antigas, ou seja, esgotadas. Os livros dentro do livro que li são os seguintes:

• Roteiro do Silêncio (1959)
• Trovas de Muito Amor Para um Amado Senhor (1960)
• Ode Fragmentária (1961)
• Sete Cantos do Poeta Para o Anjo (1962)
• Trajetória Poética do Ser (1963-1966)
• Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974)
• Da Morte: Odes Mínimas (1979)

Além dos conjuntos intitulados Exercícios Para uma Idéia e Pequenos Funerais Cantantes ao Poeta Carlos Maria de Araújo.

Ufa! Foram uns 2 meses de pleno lirismo... Outro ponto importante é perceber o amadurecimento da artista. Como se transforma a cada ano sua experiência criativa! Aliás, o que mais gostei foi o último (na edição ficou como primeiro), pois ele já está bem próximo do estilo a que fui apresentado, por exemplo, em Poemas Malditos, Gozosos e Devotos (1984). Se nesse, ela se dirige exclusivamente ao divino encarnado, em Da Morte o alvo de seus versos são justamente esta: a morte. Não poderia ser mais sensivelmente macabro...

Bem, seria impossível eu me dedicar a partir daqui a comentar todos os livros elencados. Por isso selecionei apenas uma poesia (foi difícil) dentre as prediletas.

Ah, não poderia deixar de mencionar o ângulo acima. Momento de extremo lirismo cinematográfico completamente envolvido pela presença da morte. Aliás, surpreendo-me em como já usei As Horas para ilustrar meus posts! Suas imagens não se esgotam nunca!!

ODE XXXII

Por que me fiz poeta?
Porque tu, morte, minha irmã,
No instante, no centro
De tudo o que vejo.

No mais que perfeito
No veio, no gozo
Colada entre eu e o outro.
No fosso
No nó de um ínfimo laço
No hausto
No fogo, na minha hora fria.

Me fiz poeta
Porque à minha volta
Na humana idéia de um deus que não conheço,
A ti, morte, minha irmã,
Te vejo.

(Hilda Hilst)

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