sexta-feira, 5 de junho de 2009

FIM DE JOGO

Lendo um apanhado dos pensamentos estéticos de Michel Foucault deparei-me com o curioso ensaio A Pintura Fotogênica (1975). Ao relembrar a magia do início da fotografia e seu flerte com a prática da pintura, onde uma arte auxiliava a outra e experimentações das mais variadas resultavam das tentativas, ele expõe:

“Por volta dos anos 1860-1900, houve uma prática corriqueira da imagem, acessível a todos, nos confins da pintura e da fotografia: os códigos puritanos da arte a reprovaram no século XX. Mas divertia-se muito com todas essas técnicas menores que riam da Arte. Desejo pela imagem por todos os lados e, por todos os meios, prazer com a imagem.”

OK, mesmo conhecendo o desenvolvimento da história que a imagem (e aqui já incluo o surgimento da cinematográfica) tomaria, numa freada sisuda e temerosa, pelo menos naquele começo de século XX, amedrontado e deslumbrado com as novas formas de registro artístico, não consigo conter o riso diante dessa transcrição. Riso que demora a entender a lógica do aparente retrocesso apontado por Foucault, principalmente quando ele pontua: “Os jogos da festa se extinguiram.” Riso que imagina aquele prazer incontido e festejado e que se compadece com o inevitável retraimento encontrado posteriormente.

É diante desse quadro que o teórico questiona:

“Como reencontrar o jogo de outrora? Como reaprender não simplesmente a decifrar ou a alterar as imagens que nos são impostas, mas a fabricá-las de todas as maneiras?”

Perguntas feitas para imediatamente em seguida vermos o próprio Foucault sorrindo em seu texto ao comemorar o amor pela imagem reencontrado nessas pós-modernas (pretensas...) atitudes do pop, do hiper-realismo e de outros movimentos que contemporaneamente poderíamos identificar como prosseguidores desse prazer ressurreto.

Fico aqui me perguntando se Foucault ainda estaria sorrindo hoje...

E apesar de acreditar (pena) que ele sorriria (baseio-me tão somente nos pontos de vista que ele demonstra nesse ensaio e em outros), continuo me perguntando que resposta ele teria encontrado para seus questionamentos diante do cenário em que a imagem sobreviveu desde os idos de 1975. E sobreviver, não tenho dúvida, é o verbo mais adequado para refletir o lugar da imagem, ao menos aquela ancorada no diretamente visual, desde então.

Os jogos voltaram. O prazer, o desejo, a diversão... O fim de qualquer puritanismo... A imagem corriqueira, a possibilidade de acesso criativo a todos... Imagens por todos os lados, por todos os meios...

E por isso minha pergunta urge:

Como extinguir o jogo novamente?...

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