sexta-feira, 5 de junho de 2009

ONIPOTÊNCIA


As Harmonias de Werckmeister, Béla Tarr, 2000.

Eu não sei.

Não sei como comentar um filme de Béla Tarr me desprendendo de tudo o que sinto numa de suas projeções. Não sei como esse homem consegue impor um ritmo tão particular, tão milagroso em cada cena que se dispõe a filmar. Um não saber comparável ao existir...

Em As Harmonias de Werckmeister a grandeza da existência, a simplicidade dela.

A maior baleia do mundo, espetáculo trazido a um vilarejo, morta, somente para ser vista, tocada, num contato com Deus. Sim. Com Deus. É o misterioso personagem principal quem afirma:

“Tudo o que um homem pode fazer é olhar isso, e ver a grandeza do Senhor, Seu impulso criativo, Sua energia, e como essa grandeza se reflete no animal.”

Assim como o temível Leviatã nos versos finais de Jó, ou o grande peixe restaurador de Jonas, a baleia de Tarr me comove a acreditar ainda mais na existência divina, possibilitando pela catarse estética um canal direto à onipotência de Deus. Pois como explicar as sensações causadas por um ângulo assim?


Identificação.

A vida e a morte, os corpos abandonados, obras em profunda ligação cósmica, espiritual.

Sou eu aí.

Deslumbrado, quebrantado e resumido ao pó.

Eu não sei.

Muitos dos acontecimentos do filme não consegui entender. As intrigas políticas, a incrível cena da revolta do povo, as motivações históricas (céus, preciso estudar a história da Hungria), pois Tarr consegue equilibrar como ninguém a amplitude universal da arte e as particularidades de seu contexto vivido.

Um filme onipotente.

É bom não saber.

Revisitarei diversas vezes essa que até o momento foi minha grande experiência cinematográfica de 2009 para tentar entender, para gozar de novo, para lembrar quem sou e reafirmar minha fé.

É o mesmo personagem quem diz:

“Que misterioso é o Senhor, que se diverte com tais estranhas criaturas.”


Calo-me.

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