sexta-feira, 5 de junho de 2009

A REALIDADE DAS COISAS


Margot e o Casamento, Noah Baumbach, 2007.

Na percepção pura, um sistema de ações nascentes que penetra no real por suas raízes profundas: esta percepção se distinguirá radicalmente da lembrança; a realidade das coisas já não será construída ou reconstituída, mas tocada, penetrada, vivida.
Matéria e Memória (Henri Bergson)


Ontem, devorando mais um pouco das teorias de Bergson sobre a Memória deparei-me com o belo trecho acima, num desses momentos do conhecimento em que o poético toma lugar e comprova que existe e se apresenta onde quer que seja, só nos cabe identificá-lo.

Aproveitando para relaxar (como de costume), trago um ângulo de minha Nicole, num dos seus filmes recentes que foi completamente ignorado por todos, talvez porque seja melhor do que tudo que ela fez nos últimos anos... Durante uma das discussões com a irmã, ela olha para a árvore na qual brincaram durante a infância e o desafio ressurge: será ela ainda capaz de escalá-la? Ela aceita. E sobe.

Lá em cima, um pouco antes de se perceber paralisada e incapaz de descer sozinha, e também antes de uma mosca entrar em sua orelha (mosca que vai aperreá-la o filme todo), a obra nos brinda com uma sensível cena de identificação. O contato entre dois seres vivos que imersos numa dolorosa solidão se encontram. Se tocam. A mulher e a árvore.

O sorriso de prazer que surge no rosto de Nicole transmite a alegria pelo reencontro com uma antiga amiga (a presença da memória), ao mesmo tempo que pulsa uma dor que irá se desenvolver em todo o filme, até o inesquecível final (para mim) quando ela correrá desesperadamente atrás do filho que parte num ônibus.

E sobre a dor, Bergson também é sábio:

Propriedade nova, fonte de ação positiva, que denominamos dor.

A dor é necessária. Para a personagem de Nicole. Para a árvore. Para mim.

No contato acima a certeza da vida. De que as coisas são reais.

(estou sempre atrás dessa certeza)

Preciso desse contato.

E eu o tenho.

É como se eu pudesse abraçar dessa forma um filme. Uma imagem.

Eu sinto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Algo para mim?