sexta-feira, 5 de junho de 2009

A INTERIORIDADE DO GESTO


O Violoncelista, irmãos Bragaglia, 1913.

Puxa, atualizando minha lista de últimos filmes percebi que ainda não tinha comentado a beleza que Rodrigo levou numa sessão Dissenso: Pas de Deux (Norman McLaren, 1968).

Se eu não encabecei o ângulo com o filme foi porque essa fotografia dos irmãos Bragaglia (Anton e Paolo) passa mais do espírito da obra de McLaren do que sua própria criação. Pas de Deux (ângulo no fim do post) transborda em cada segundo de projeção todo o imaginário revolucionado pelos futuristas a partir dos parâmetros oferecidos pela fotografia e então recente cinematografia. Exemplo clássico do movimento fotodinamista iniciado pelos Bragaglia, O Violoncelista resume em si toda a intencionalidade dessa perspectiva futurista, de apreender o movimento como o registro da técnica foto e cinematográfica não seriam capazes. Muito mais do que nos experimentos de cronofotografia popularizados por Marey e Muybridge, o fotodinamismo não se preocupa em entender a constituição do movimento e em retratá-lo como um objeto mecânico, antes, ele deseja a permanência do “movimento que produziu a sensação cuja lembrança ainda palpita profundamente em nossa consciência.” (Aurora Bernardini em O Futurismo Italiano).

Mas esqueçamos por hora toda a necessária racionalização que um manifesto vanguardista exige e observemos mais atentamente a foto acima. Se os convido a isso é para tentar compartilhar um pouco do que ela causa em mim.

Voltem ao topo do post.

Um pouco de silêncio.

É sério.

...
































Posso ver a alma. Sob a nova perspectiva em mim criada de que a alma repousa no interno e no externo ao corpo, posso vê-la. Desafiando a rigidez da imagem fixa, a cronologia do tempo passado, transbordando e tocando meu próprio espírito. Sinto-a.

Já não quero falar. Só viver.

A quem interessar mais sobre o assunto, recomendo o belo ensaio que Maria do Carmo escreveu sobre, e graças a ele me apresentou o gozo.

E sob uma inevitável perspectiva intersemiótica (formativa da própria vanguarda futurista) abandono algumas imagens do balé divino de McLaren, que sem dúvida parece um pouco atrasado na história se formos pensar em ousadias estéticas... Mas quem se importa?

Diante do belo o tempo sucumbe.

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