sexta-feira, 5 de junho de 2009

UM POUCO DE VIDA


Em Paris, Christophe Honoré, 2006.

Recentemente comentei da alegria que tive em 2008 ao ver o filme Em Paris numa sala de cinema. Na ocasião, saí saltitando, querendo contagiar o mundo e a todos com a euforia iminente, com todo frescor e jovialidade que o filme me transmitiu. Passados alguns meses, na última semana pude revê-lo, reavaliar melhor, mais centrado, até disposto a encontrar problemas e falhas no filme, pois não conseguia compreender o motivo de ter gostado tanto dele.

Não mudei minha opinião. Mas agora vivi o outro lado da moeda, a outra faceta que a obra de Honoré (virei fã) permite apreender. O fato é que o filme equilibra sem esforço a comédia e o drama, a alegria e a tragédia, na pele dos dois irmãos franceses. Enquanto um (Louis Garrel) se encanta com os prazeres da juventude, os amores, as mulheres, a Paris (mais linda que nunca), o outro (Romain Duris) se afoga numa deprê pós-relacionamento, trancado no quarto sem encontrar motivos pra viver. Pois é, na primeira vez gozei ao lado de Louis, nessa última entrei na pele do Romain.

Uma das cenas mais encantadoras pra mim é aquela em que ele encontra um disco antigo (anos 80) e começa a ouvir saudoso. O negócio é cantado em inglês e ele começa a enrolar a língua, acompanhando. Na cama, ele vai fazendo gestos ridículos com as mãos dançando ao ritmo da música... É o cúmulo do patético!!! Ou seja, é o cúmulo da vida!!! Eu sou assim, faço isso quando estou sozinho e ninguém precisa saber. Quantas coisas a gente não faz que soariam absolutamente ridículas ao outro? Mas que nos fazem bem! Eu acho que é isso que o filme de Honoré conseguiu me passar: um pouco da vida, simples assim, boba, como ela é.

Há vários outros momentos bobos no filme e eu adoro cada um deles! Há uma cena em que Louis está correndo no meio da rua, uma linda mulher quase o atropela com sua moto, eles se olham e logo ele está com ela, indo pro apartamento dela, terminando em seu sofá até chegar na cama... Caramba, nem sei porque estou falando tudo isso! Contando as cenas desse jeito... Eu não costumo escrever coisas assim! O fato é que “Em Paris” desloca todo meu senso crítico para um lugar que nem me importa, porque a emoção (nesse caso) é o maior valor em jogo.

OK, se formos olhar racionalmente talvez o filme seja tardio e já nasça envelhecido. Com espírito de nouvelle vague do início ao fim, pode ser que ele nem acrescente nada ao cinema em termos inovadores. Ah, mas se tivéssemos mais coisas assim... Não à toa o filme causou tanto frisson em Cannes que precisaram organizar uma segunda exibição às pressas no mesmo dia! OK, isso não traz mérito ao filme, mas me revela muito do espírito francês, genuinamente francês, DELICIOSAMENTE FRANCÊS que o filme tem.


Depois desse blábláblá confuso que fiz, acho que descobri o que mais me atraiu no filme. Sem dúvida, esse é um filme com homens, de homens para homens, homens que sofrem, que gozam, que choram, que vivem... A sensibilidade da vida costuma estar muito presente em filmes ‘femininos ‘ (As horas como exemplo mais evidente pra mim), e é verdade, em se tratando de arte parece absurdo querer sexualizar uma obra ou a forma como ela afetará seus receptores. Mas isso é um fato: raros são os filmes que se atrevem a mostrar homens com tanta sensibilidade...

A masculinidade é um aspecto complexo, muito mais do se imagina. A idéia de “ninguém entende as mulheres”, eu acho, surgiu apenas para desviar o foco desses seres confusos, retraídos, endurecidos e orgulhosos que são os homens. Nesse sentido Honoré surge como um candidato a especialista dos homens (os outros filmes dele comprovam isso). Temos nesse filme, três homens lapidares, os dois irmãos e o pai (Guy Marchand), um núcleo familiar já diferente do convencional, unidos pela lembrança da irmã mais nova, que um dia decidiu se suicidar. Os três parecem agarrar-se para sobreviver à tragédia, para se convencerem de que vale à pena viver, para se motivarem a continuar chorando e sorrindo, enfrentando em cada dia seu mal.

Pois é, concluo meu post de hoje percebendo que falei muito pouco de cinema (rsrsrs)... Mas que no fim, aproveitei para mergulhar no que é mais caro ao cinema: a vida. Esse é um filme que fez eu me apaixonar um pouco mais por ela. Remédio certo para dias melancólicos e felizes, amigo para todas as horas, nesse filme um ombro para compartilhar um pouco de mim.

Ah, esse negócio chamado cinema...

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