sexta-feira, 5 de junho de 2009

ENTRE EXCESSOS


Era uma vez um cineasta que resolveu pegar nada mais nada menos que Romeu e Julieta e criar uma das releituras mais ousadas que o audiovisual já teve, principalmente se considerado o peso do original. Releitura que à primeira vista pode ter sido rejeitada por muitos, inclusive por este que vos escreve, pois eu demorei mais de 5 anos para ter coragem e assisti-lo inteiro. O que não convenceu na primeira tentativa tornou-se uma das adaptações favoritas, passado todo esse tempo.

Era uma vez um mesmo cineasta que resolveu pegar um dos gêneros moribundos da sétima arte e criar uma obra com um fôlego que não apenas restaurava o gênero, problematizava seus princípios clássicos de técnica, filmagem e apropriação musical, como imprimia pelo estilo e ousadia semelhantes à leitura shakesperiana um estilo próprio, algo que lhe conferisse para os que gostam e os que não gostam, uma inquestionável noção de autor. (aproveitei esse parágrafo para me refrigerar com a imagem acima que acabei de encontrar)

Esse homem era Baz Luhrmann.

Era uma vez um diretor de televisão, já acostumado com adaptações literárias (vide currículum de novelas, desde Helena, 1987, até minisséries, com Os Maias, 2001) que resolvia se aventurar pela sétima arte e com apenas uma obra conseguia o estatuto máximo de autor cinematográfico, legando à cinematografia nacional uma das obras mais belas e sensíveis de sua história: Lavoura Arcaica, 2001. Ok, com esse filme eu não poderia ignorá-lo mais...

Era uma vez um mesmo diretor, de volta à TV, seduzindo um público incauto que nem se importava com o que ele queria transmitir, tamanha a beleza de sua brincadeira com Hoje é Dia de Maria; diretor que se confundiria e erraria feio em outra adaptação de importante literatura nacional, gerando um dos mais desagradáveis episódios do audiovisual brasileiro em A Pedra do Reino.

Esse homem era Luiz Fernando Carvalho.

Era...

Tudo isso para chegarmos em Capitu... E que pena que chegamos.

É verdade que depois do que ele inventou ano passado, blasfemando sobre uma obra sagrada de nossas páginas, o preconceito em mim nasceu. E quando eu vi os comerciais de Capitu, com aqueles cenários e figurinos tresloucados, toda a minha impressão se estabeleceu. É, nem precisava assistir aos episódios (e haja propaganda), por isso fiquei só no primeiro. Pois apenas ele bastou para ver que hoje, Luiz Fernando não é nem cineasta, nem diretor de TV, enfim, pra mim, assim como Raduan, ele devia ter ficado com uma obra só (tá, eu sei, Raduan ficou com 2, mas é pra soar melhor).

Não consegui em nenhum segundo dissociar a empreitada de Luiz ao estilo de Luhrmann, afinal, tá tudo aí: ousadia formal, literatura original de peso sagrado, respeito obsceno ao texto escrito, música, música e música excessivamente pop (eis a palavra chave), e até aquele glamour cheio de purpurina super afetado pra queimar os olhos. Com uma diferença: em Luhrmann o fogo anima, em Luiz mata.

Era uma vez um cara que se deslumbrou. Com o cinema, com o teatro, com a TV, e tentou fazer de tudo isso uma coisa só. Não deu. Era uma vez um cara que se descontrolou. Não apenas com seu deslumbramento, mas até mesmo no pulso que precisaria ter para com seu público, afinal controlar as emoções é a principal qualidade de alguém que lide com TV, e esse controle é tudo que não existe em Capitu.

OK, só não encerro com um ‘viveram felizes para sempre’ porque uma opinião nunca se encerra.

Quem sabe daqui a 5 anos não entendo o que Luiz está tentando fazer...

Por enquanto, entre Satine e Capitu, fico com Satine...

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