sexta-feira, 5 de junho de 2009

VAZIO SEM ESPERANÇA


Foi Apenas um Sonho, Sam Mendes, 2008.

Eu não gosto de escrever sobre um filme imediatamente após tocá-lo. A sensação de injustiça causada pela falta do distanciamento sempre fala mais alto. Foi por isso que não escrevi nada sobre O Curioso Caso de Benjamin Button. Ainda enquanto o assistia senti que a emoção do momento iria passar e ele diminuiria em mim. A suspeita se confirmou. E para não perder tempo elencando todos os pontos negativos do filme, nem me lembrar da vergonha que eu senti no decorrer dele, vergonha do próprio David Fincher que parece mesmo encabulado por ter se rendido dessa forma, continuarei sem falar nada.

Acabei de assistir Foi Apenas um Sonho. Sério, acabei de chegar em casa. Eis um filme que merece ser exceção...

Calma, não vou contar o final (rsrsrsrs), não sou tão cruel assim. Quero apenas sugerir humildemente (Rô, pra você essa não é uma sugestão, mas uma ordem!): não percam a oportunidade de experimentá-lo.

Acadêmico? Talvez.

Parece novela? Talvez.

Arte? Com certeza.

Não estou em condições emocionais para comentá-lo adequadamente. Os olhos ainda molhados, a face enrugada, a sensação de deslocamento com minha vidinha...

Se comecei falando de Benjamin é porque foi inevitável assistir a nova obra de Sam Mendes sem ficar comparando. Esses tempos de Oscar são mesmo assim. Além do mais eu estava meio assustado de me decepcionar de novo. São tantos cineastas queridos dando as caras (no aguardo ansioso por Daldry, Van Sant, Arronofsky, Boyle, Eastwood...), e Sam Mendes é um muito especial, com mais um enorme pontinho no meu coração. Com mais recato do que em seus 3 filmes anteriores (gosto de todos), Mendes conseguiu construir um melodrama exemplar, ácido e cenicamente irrepreensível.

A afinação do elenco e do roteiro, assim como a temática, me levaram diretamente ao universo de Mike Nichols. De Quem tem Medo de Virginia Woolf a Closer, Mendes aprendeu a lição muito bem, fazendo seu dever de casa e imprimindo todas as suas obsessões pessoais com traumas familiares, convenções e hipocrisia social além de uma farta crítica à América.

OK, eu sabia que não conseguiria escrever um bom texto agora. O que me levou a escrever tão depressa foi a impressão de que eu não vou conseguir, nem amanhã nem depois, escrever sobre esse negócio que me tocou tanto. Eu sei que eu sou meio tonto com filmão clássico, sou choroso, gosto de uma melancolia exagerada, e por isso não me sinto em condições de um relato imparcial sobre o filme (se eu fosse um crítico profissional escreveria um texto super hipócrita agora). Hipócrita. Que palavra para resumir Foi Apenas um Sonho. É sobre isso que o filme trata: a hipocrisia humana; muito pior do que para com os outros, a hipocrisia para consigo próprio.

Deixa pra lá. Acho que não vou escrever nada útil hoje.

Útil... Amarga ilusão de vida.

Já não recomendo a todos.

É delicado demais.

Quem for arriscar... Não me responsabilizem pelo ato.

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Menção especial para Katie Winslet. A mulher se garantiu aí (o Léo é lugar comum, sempre bom). Pra mim, a melhor coisa que ela já fez. Lembrando que Mendes é seu marido, pressinto que esse filme será um ponto de virada na carreira dela, semelhante ao que ocorreu com Nicole após De Olhos Bem Fechados...

Ah, bora correr pra ler o livro!

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