sexta-feira, 5 de junho de 2009

O VENCEDOR


O Lutador, Darren Aronofsky, 2008.

Não me canso de dizer que Veneza é o Festival que melhor tem sabido premiar filmes nos últimos anos (uma dúzia pelo menos), mesmo assim acabei me esquecendo que O Lutador tinha sido o mais recente vencedor do Leão de Ouro. Pois é, fui assisti-lo levando em consideração apenas o pacote Oscar, aqui entre nós, um dos mais fraquinhos que eu já vi. Tirando o grande vencedor, que eu ainda não provei, Milk me pareceu o melhor concorrente à categoria principal e ainda assim deixa a desejar levando-se em conta o que Van Sant fez nessa década (pra mim, a filmografia mais consistente desse séc. XXI). Com tudo isso, estava convicto de que ia rever um grande autor, Aronofsky, um dos melhores iniciados também nesse séc., fazendo algo que não alcançaria sua habitual criatividade (o anterior A Fonte da Vida é uma das coisas mais lindas que eu já vi, o que por si obrigava ele a descer um degrau nesse novo). Enfim, eu realmente fiquei meio desacreditado com o cinema nessas últimas semanas, porque todos os filmes que eu vi, tão bem feitos, demonstraram o único e mísero interesse de serem bem feitos. Até mesmo Foi Apenas um Sonho, com o baque que me deu (talvez por ter sido tão doloroso), me deixou numa corda bamba de juízo por me intimidar tão passionalmente com a história contada. (pra dar uma idéia do meu desespero até Sexta-Feira 13 eu experimentei... pelo menos o interesse dele era outro: ser mal feito)

OK, voltando a O Lutador: até que enfim!!! E quase que eu deixo esse passar! Palmas mais uma vez pra Veneza! Era de se esperar que o melhor filme do pacote Oscar não estivesse concorrendo na categoria principal...

Enxuto, simples, seguro, em tudo é bom: elenco, direção, trilha, fotografia... Peraí, os satisfatórios concorrentes da Academia também eram tudo isso, eu reconheço! (impossível não recorrer o tempo todo aos comparativos dessa premiação pegajosa) Mas aqui encontramos aquela coisinha a mais: aquela centelha de vida completamente obrigatória a uma obra que almeje ser realmente Arte. E aqui outro fator entra em jogo: TENSÃO. Provavelmente o último cara que conseguiu me deixar tão tenso com um filme foi Greengrass (Bourne, Vôo United 93), mas se aí estávamos no domínio da ação, aqui mergulhamos num sôfrego e desesperado drama humano, dos mais cruéis que eu já experimentei.

Aqui entre nós, as cenas de luta do filme são um exagero de boas. Absurdamente viscerais, concentram-se em 2 sequências logo no início, o que demonstra não ser o objetivo principal, mas que não justificam a maior tensão do filme. Fato: não há um minuto, do início ao fim, que O Lutador não apresente uma imagem carregada de tensão. Grande mérito ao monstruoso Rourke, no papel de sua vida, e à parceira Tomei (a quenga do momento, quem diria...), que compuseram com seus corpos (sim, eu enquadraria esse filme naquele ‘Cinema de Corpo’) dois dos personagens mais constrangedores que eu já presenciei numa tela. Constrangedores porque fracassados. Fracassados porque vivos.

Como toda boa obra, esse é um filme que se abre a um sem número de viés interpretativo. Há tanta coisa em jogo nessa história típica de redenção que fica até difícil comentar algo em específico. Mas como sou eu o autor dessas palavras não poderia deixar de comentar especialmente o foco cristão que essa obra carrega tão originalmente.

É no meio de um stripper que Marisa Tomei declara as palavras do profeta Isaías, identificando no lutador ferido, o Cristo dilacerado, maltratado e humilhado por todos. A referência ao filme de Mel Gibson (genialmente explícita) termina ecoando no decorrer de toda a trama, principalmente após a violência desumana que somos obrigados a ver (difícil manter os olhos abertos). E se todo o filme exala um lugar comum narrativo (muitos o acusarão de amontoado de clichês, eu sei e discordo), isso parece se justificar exatamente sob a sombra da paixão de Cristo, contada e recontada anualmente há quase 2000 anos. Enfim, qual o problema em contar uma história simples? Não é permitido contar algo que já foi contado? Ora, é impossível escapar disso! E é justamente essa consciência que Aronofsky demonstra ter com muita dignidade! (humildade que faltou pros candidatos Oscar)

Apesar de minha empolgação pós-filme (típica), é a primeira vez no ano que saio de um cinema com a certeza que não vou mudar de opinião. A vontade de rever o filme o mais rápido possível surge sob a convicção de que a revisão dele só vai somar pontos ao seu favor, dando aquele gostinho de ter encontrado (ufa!) um filme que certamente revisitarei muitas outras vezes na minha vidinha.

Em tempo: eu amo o Sean Penn e o cara fez por merecer, mas se o Mikey tivesse levado o Oscar eu estaria com mais um motivo para sorrir...

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