sexta-feira, 5 de junho de 2009

(IM)PERFEIÇÕES


O Crime Perfeito, Alfred Hitchcock, 1957.

Para que um artista chegue perto da perfeição criativa é preciso enfrentar alguns baixos, escorregar um pouquinho, para sondar o terreno em que pisa, experimentar e descobrir as possibilidades que tem em mãos. Cumprindo essa obrigação da qual nem os gênios podem escapar, Alfred Hitchcock também viveu seus dias nublados, suas tentativas frustradas, principalmente no início da carreira britânica, acho que mais na primeira metade dos anos 30 do que na década muda em si. Seria absurdo imaginar que na sua espantosa carga produtiva americana, principalmente com o início do seriado televisivo ele não fosse pisar na bola nenhuma vez... Pois é, encontrei o escorrego do mestre...

O Crime Perfeito, 8º episódio do Hitchc para TV é uma iniciativa que não merece muito de nossa atenção. Aqui sim, completamente televisivo em termos de limitação de linguagem, o mestre fez apenas remoer alguns de seus temas prediletos. De Festim Diabólico a O Homem Errado, as citações são explícitas e inúmeras, mas acho que pela primeira vez não vejo algo consistente ser acrescentado à sua obra. A repetição temática na filmografia de Hitchcock, sob a impressão de que toda sua carreira se dispôs a filmar apenas um filme em suas infinitas variações, pode muito bem ser apreciada sob o conceito de repetição deleuziano, onde a repetição faz parte da própria ontologia do tema em questão, num interminável processo de (re)significação dos sentidos. Mas aqui, não posso de forma alguma aplicar essa interpretação, pois o faria levianamente.

Pensei até em não escrever nada a respeito, mas percebi que estaria sendo injusto, já que abracei a idéia de comentar episódio a episódio. Reconhecer uma falha entre tantos acertos não é nenhum mal, ainda mais quando me lembro da enorme quantidade de coisas irrepreensíveis que Hitchc fez nesses idolatrados anos 50. Sem dúvida, aqui uma das notas mais baixas de toda sua produção, o que talvez me faça admirar ainda mais esse homem que foi antes de tudo, um homem.

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Os 8 episódios até aqui comentados são o total do que foi disponibilizado no Making Off, referentes às 3 primeiras temporadas da série. O amigo PARENTE, responsável por essa ação redentora, está dedicado aos demais episódios agora, feitos pelos outros diretores contratados para o programa. Não pretendo cobrir esses outros por aqui (a não ser que valha de verdade), por isso suspendo temporariamente (espero que por pouco tempo) a continuidade desses deliciosos posts hitchcockianos...

Faz um tempo que consegui completar a filmografia do mestre por aqui (lágrimas), mas confesso que com o tempo limitado, ainda falta experimentar uma meia dúzia de filmes, o que certamente me fará voltar em breve com um pouco mais de suspense...

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