sexta-feira, 5 de junho de 2009

EVANGELHO CINEMATOGRÁFICO



Deixar para comentar um livro após ter concluído sua leitura é mais fácil, talvez até mais seguro para a formação de uma opinião concreta, mas não estou disposto a esperar... A urgência das leituras necessárias para meus ensaios da pós finalmente me levou a uma obra que eu sempre tive muita vontade de tocar: “Esculpir o Tempo”, livro em que Andrei Tarkovski (cineasta russo, 1932-1986) registrou suas reflexões, suas dificuldades, seus prazeres, tudo que lhe incomodava a respeito do veículo cinematográfico e de sua obra particular.

Minha história com Tarkovski é cheia de tropeços e outro dia volto para contá-la, até porque esse mês já elegi como um mês Tarkovski, ou seja, vou revisitar todos os seus filmes (comecei ontem) e falar muito dele por aqui. No momento queria apenas declarar que nesse livro (ainda longe de terminá-lo) eu encontrei muito mais que um simples texto sobre cinema, sobre técnica ou mesmo inspiração artística. Já empatado no meu ranking com a entrevista de Hitchcock à Truffaut (que aliás preciso também dedicar vários posts), em Esculpir o Tempo eu comprovei que Tarkovski compreendeu o cinema como pouquíssimas pessoas puderam.

Para esse homem, cinema era muito mais do que entretenimento, meio de comunicação, forma de contar histórias... Nele, tanto nas palavras escritas como na sua carreira (de poucas, mas intensas obras) viveu o espírito que o cinema procurava para se revelar arte e encontrar o caminho para Deus. O ponto de vista sagrado que Tarkovski enxerga nas imagens transborda em cada cena de seus filmes e em todas as páginas do livro que para mim, já se transformou em Evangelho.

Em Tarkovski o cinema é mais que ofício, é uma missão.

As obras-primas nascem da luta travada pelo artista para expressar seus ideais estéticos. Na verdade, é destes que nascem seus conceitos e sensações. Se ele ama a vida, se tem uma necessidade imperiosa de conhecê-la, de modificá-la, de tentar torná-la melhor – em resumo, se ele pretende cooperar para a elevação do valor da vida, então não vejo perigo no fato de sua representação da realidade ter passado pelo filtro de suas concepções subjetivas, dos seus estados de espírito. Sua obra sempre será um esforço espiritual que aspira à maior perfeição do homem: uma imagem do mundo que nos fascina por sua harmonia de sentimentos e idéias, por sua nobreza e seu comedimento.

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