sexta-feira, 5 de junho de 2009

BÉLA TARR: MEU NOVO MESTRE


É incontestável.

Béla Tarr é um dos maiores gênios que a arte cinematográfica já teve.

Gerry continua se revelando uma bênção em minha vida por ter me conduzido a esse mestre que eu já adotei no meu coração e não me desfaço mais de jeito nenhum. Quando escrevi por aqui a respeito de Sátántangó o fiz com os olhos ainda marejados por uma neblina que não me permitia ver de imediato que estava diante de uma das coisas mais extraordinárias que a sétima arte conseguiu legar à humanidade. Tentando visualizar um painel cinematográfico dos anos 90 não me precipito ao afirmar que a empreitada de Tarr é o maior empreendimento estético em cinema daquela década, desbancando grandiosidades como a Trilogia das Cores (Kieslowski), A Lista de Schindler (Spielberg) e mesmo o grande referente daqueles anos pops Pulp Fiction (Tarantino), aliás, o épico com mais de 7 horas de duração foi o único filme que Tarr finalizou naqueles anos.

Não tem pra ninguém! A obra de Tarr pode ser resumida em um adjetivo: incomparável. E eu me sinto até leviano em ficar gastando palavras sobre ela por aqui, pois reconheço que muitas vezes me excedo falando sobre filmes não tão importantes mas que me tocam de alguma forma especial. Enfim, um cineasta para ser lembrado pra sempre, da grandeza desses grandes mestres europeus (Antonioni, Bergman, Tarkovski...), que nos traz um fôlego de vida para uma arte que pela grande maioria é tratada como simples produto de mercado. Um homem de fé, de ritmo próprio, de imagens e estilo únicos, ahhhh, dá vontade de não parar de babar...

Nascido em 1955 (graças a Deus ainda está muito jovem), o moço conta apenas com 8 longas no currículo e acho que vale indicar a filmografia por aqui:

• Családi tűzfészek / Family Nest (1979)
• Szabadgyalog / The Outsider (1981)
• Panelkapcsolat / The Prefab People (1982)
• Őszi almanach / Autumn Almanac (1985)
• Kárhozat / Damnation (1988)
• Sátántangó / Satan's Tango (1994)
• Werckmeister harmóniák / Werckmeister Harmonies (2000)
• A Londoni férfi / The Man from London (2007)

Deu pra notar que ele não tem pressa né? E isso já diz muito... Me parece mesmo que os anos 80 foram apenas o aprendizado, o descobrimento das técnicas, das possibilidades cinematográficas, e que a partir dos anos 90, ou possivelmente de Damnation (isso por causa das fotos que eu vi do filme) ele tenha se encontrado e firmado sua voz, através de filmes que se completam e que interagem entre si. Pelo menos eu acabei de ver As Harmonias de Werckmeister e Sátántangó está todinho ali (que bom)....

Eu tinha iniciado esse post pensando em falar justamente sobre esse último filme, mas meu reconhecimento ao autor clamou mais alto. Estou conseguindo juntar toda a filmografia dele por aqui, por isso vocês ainda vão ter que me agüentar muito falando sobre o fulano... Por enquanto continuo deixando essa recomendação aos amigos cinéfilos, aos candidatos a cinéfilos e àqueles que simplesmente procuram algo bom para se fazer com o tempo, ou melhor, uma forma de recuperar o tempo que perdemos a todo instante... Como nas palavras de Tarkovski:

“Por que as pessoas vão ao cinema? O que as faz buscar uma sala escura onde, por duas horas, assistem a um jogo de sombras sobre uma tela? A busca de diversão? A necessidade de uma espécie de droga? No mundo todo existem, de fato, firmas e organizações especializadas em diversões que exploram o cinema, a televisão e muitos outros tipos de espetáculo. Não é nelas, porém, que devemos buscar nosso ponto de partida, mas, sim, nos princípios fundamentais do cinema, que estão ligados à necessidade humana de dominar e conhecer o mundo. Acredito que o que leva normalmente as pessoas ao cinema é o TEMPO: o tempo perdido, consumido ou ainda não encontrado. O espectador está em busca de uma experiência viva, pois o cinema, como nenhuma outra arte, amplia, enriquece e concentra a experiência de uma pessoa – e não apenas a enriquece, mas a torna mais longa, significativamente mais longa.”

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