sexta-feira, 5 de junho de 2009

PROTESTO CRÍTICO

Meu próximo filme em cinema será O Leitor (Stephen Daldry, 2008). Como de hábito, essa semana vasculhei a net para conferir os comentários a respeito dele. Nesse vaivém virtual sempre consulto sites com reflexões mais amadurecidas (Contracampo, Cinética) e ‘sites pipocas’ que servem como divulgadores culturais (Cineclick, AdoroCinema e blogs afins). Qual não foi minha surpresa ao encontrar no Cineclick uma ‘crítica’ de Sergio Alpendre iniciada dessa forma:

“Em 2000, Stephen Daldry estreou em longa-metragem com “Billy Elliot”, um filme afetado e cheio de clichês protagonizado por Jamie Bell, estreante no cinema. Dois anos depois, atingiu o nível mais baixo na escala melodramática com “As Horas”, subliteratura disfarçada de filme sensível (...)”

Não preciso nem dizer que esse palavrório violento me distanciou de imediato do texto. Muito contrariado com as ofensas a dois filmes tão queridos e quase unânimes prossegui na crítica tentando entender o alvo da opinião do Sergio. Na verdade, com essa abertura já fica muito claro o direcionamento que a ‘crítica’ toma, e se no decorrer do texto ele dá umas ‘colheres de chá’ para O Leitor termina concluindo que tudo não passa de um “lugar comum por excelência, no protótipo de filmes para ganhar prêmios de votantes que parecem desconhecer a história do cinema...”

OK, reconheço que o lugar da crítica é um lugar de dissenso, de divergência de opiniões e abertura de diálogo, mas me pergunto qual o lugar e o fundamento da crítica numa atualidade de público que se preocupa quase em sua totalidade (e imbecilidade) em consumir produtos despretensiosos, que sirvam para distração num fim de semana. Afinal, é exatamente esse tipo de público o alvo de um Cineclick (não tenho nada contra o site, como disse no início, sempre o visito para uma opinião mais popular).

A atual edição da Revista Contracampo conta com uma excelente reflexão sobre o papel da crítica contemporânea, em como ela disputa e se rende ao marketing e à rentabilidade de um filme, contentando-se em elogiá-lo pelo simples fato de ele não ocupar a mediocridade artística plena (“satisfatório” é o termo usado por Luiz Carlos Oliveira Jr.). Nesse sentido, o comentário do Sergio parece até se aproximar de uma boa intenção crítica, não se ‘satisfazendo’ com aquilo que é pouco (em sua opinião somente); mas qual a validade de se fazer isso com um dos poucos filmes que surgem no circuito comercial nutrindo um evidente esforço por escapar do meramente satisfatório? E mais: Sergio não é tolo a ponto de ignorar que um insulto a Billy Elliot e As Horas, filmes muito bem aceitos pelo público (de massa e de cinéfilos verdadeiros) e pela crítica, pode causar um brutal distanciamento entre seu texto e quem o lê, e óbvio, impedir esse leitor de se interessar pelo objeto principal que é O Leitor (isso tá quase um trocadilho).

Acho (isso mesmo, esse é um texto com uma opinião minha) que Sergio se esqueceu de dar uma abertura para seu leitor se interessar em conferir o filme por si próprio. Sua ameaçadora autoridade crítica, assim como os membros da Academia, me soou parada no tempo, indisponível a um diálogo desde o início, já que ele demonstra não suportar filmes que não tenham um interesse inovador ou de vanguarda (sinceramente, se As Horas é subliteratura, acho que para ele a única coisa que presta no século XX é Joyce, no máximo Proust). E isso me parece um enorme problema, principalmente pelo lugar em que essa crítica está sendo divulgada.

Não quero dizer que o Cineclick deva ser um espaço para imbecis e feito por imbecis. Sem dúvida, uma voz dissonante tem seu valor e um pouquinho de erudição nunca é demais. Mas fico me perguntando se aquela simples pessoa que foi dar uma olhadinha no site, ao se deparar com esse texto, não preferiu escolher Um Faz de Conta que Acontece, Noivas em Guerra ou Sexta-Feira 13 para o seu final de semana...

Da mesma forma que a Contracampo se contradiz ao publicar um texto tão bacana como o de Luiz e na mesma edição elogiar Arquivo X, Batman e o novo 007 por serem meramente satisfatórios, sinto que o Cineclick também pisa na bola ao reunir comentadores que incentivam o entretenimento barato e um ambicioso indivíduo que não se contenta com algo menor que uma obra-prima.

No fim disso tudo acho até interessante essa bagunça crítica. Afinal, tanto um quanto outro espaço alcançam com essa incoerência aquele dissenso tão querido e não se fixam num molde previsível e estagnado. Mas no fim mesmo, fico torcendo para que poucas pessoas leiam o texto de Sergio e prefiram ir conferir pessoalmente o filme atacado.

Eu vou.

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