sexta-feira, 5 de junho de 2009

UM CANTO DE AMOR


Um Canto de Amor, Jean Genet, 1950.

Desejo.

Não existe outra palavra que defina melhor Um Canto de Amor do que essa. Única empreitada cinematográfica de Jean Genet, esse filme está impregnado de desejo em cada fotograma que o constitui. Lamentável que tenha sido o único. Notável a maestria de Genet ao revelar-se com maior autoridade sobre a imagem em movimento do que muitos que adotaram o cinema como ofício. Ainda bem que a obra resiste.

Não poderia ser outra a trama. Prisioneiros. Homoerotismo. Perversões sexuais. Os mesmos temas que obcecaram o artista em toda sua obra literária persistem nessa invenção. Um guarda que observa os criminosos em suas celas solitárias, vendo-os em sua intimidade, desejando-se além das paredes, criando em sua mente um cenário idílico de corpos entrelaçados numa erupção carnal de prazer.


Chega a ser doloroso o desejo não concretizado dos personagens principais, prisioneiros que se agarram às paredes para tentar sentir quem está do outro lado. Como no ângulo acima, em que o arranhar da face no cimento provoca os sentidos para uma experiência que precisa se concretizar. Homens que isolados, saciam-se com as próprias mãos, cheirando a própria pele, encontrando no próprio corpo a satisfação de um desejo que não pode ser consumado.

E eis que me deparo com o corpo novamente. E o desejo de Genet pelos corpos que filma contagia. Corpos que se completam, que transcendem a necessidade erótica por um algo que toca o espiritual. E em cada pedaço de pele, em cada roçar de pêlos, até mesmo no despir de uma meia, o êxtase me invoca.

Sinceramente, nunca tinha experimentado algo assim. Genet mais uma vez conseguiu ultrapassar os gêneros sexuais na produção de sua arte. E como estamos num terreno que me estimula mais, o gozo é maior. A possibilidade de identificação se intensifica. Eu tinha encontrado esse filme alguns dias antes de Gerry, e só não falei dele antes porque Gerry me possuiu. (aliás, a lista de filmes a comentar está enooorme) Mas se não fosse por Gerry, esse teria sido o melhor filme dos últimos dias. Grande surpresa. Difícil ficar com apenas um ângulo...

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