sexta-feira, 5 de junho de 2009

CINZAS E DIAMANTES


Cinzas e Diamantes, Andrzej Wajda, 1958.

E nem só de Kieslowski viverá o homem e o cinema polonês...

Resolvo enfim conhecer pessoalmente o aclamado cineasta da famosa Trilogia da Guerra (não planejada por ele), formada por Geração (1954), Kanal (1957) e Cinzas e Diamantes (1958). Comecei pelo último por causa da unanimidade crítica em erguê-lo como a obra-prima do autor. Fiz bem.

Na verdade, sou a última pessoa indicada para comentar esse tipo de filme, tão impregnado de discurso político, ao estilo do que os italianos estavam fazendo naquela década com seu cinema. Infelizmente (?) confesso ser bastante alienado a preocupações de ordem política, motivo que me causou um considerável distanciamento ao filme. Mas quando eu digo ‘esse tipo de filme’ também posso direcionar minha reflexão a algo que fuja de ideologias e preocupações utilitárias à arte. Vamos por partes.

Em 1945, no último dia da guerra, um jovem mercenário é contratado por uma organização de direita para matar um líder comunista. Após matar um inocente por engano, ele conhece uma garçonete por quem vem a se apaixonar. Graças a ela, começa a questionar a utilidade da guerra, sua incumbência criminosa e sua própria individualidade. Não conseguindo escapar do ‘dever’, executa o comunista, mas é capturado por guardas que o ferirão de morte.

É isso. Essa é a trama. E se dessa vez não pude fugir ao resuminho fácil, foi porque a partir desse enredo Wajda não apenas teceu suas considerações políticas e nacionais, mas acima de tudo, construiu momentos de extremo apuro visual que certamente nunca se apagarão em mim: o fogo sobre os copos de conhaque, os lençóis estendidos na perseguição final, o Cristo pendurado de cabeça pra baixo num terreno em ruínas, além da cena de amor com a jovem (acima) que antecipa espantosamente o clima de Hiroshima, Meu Amor.

Bem, muito ainda poderia ser dito, inclusive sobre o ator principal, Zbigniew Cybulski, conhecido como uma espécie de James Dean polonês, também garotão, galã e super bom ator, mas não posso encerrar esse post sem comentar a emoção que Wajda conseguiu despertar em mim diante das 3 dolorosas mortes que apresenta durante a obra (ângulos abaixo).

A primeira, meticulosamente hitchcockiana (simplesmente o melhor adjetivo que pode partir de mim), abre o filme com sábio impacto e vigor.

A segunda, também criada com forte suspense, culmina numa dolorosa queda da vítima nos braços do assassino, nosso ‘herói’ principal.

A última, a morte do jovem... Não sei como descrever... Uma das mais impressionantes que já vi. (páreo duro até pra Hitchc) Se nas anteriores temos um excedente gesticular dramático por parte dos atores, inverossímil a pessoas que realmente estivessem à beira da morte, aqui temos a mais desesperada agonia que o cinema já captou de alguém que esteja pra morrer (o que confirma o propósito das dramáticas anteriores). Zbigniew rasteja vergonhosamente num chão cheio de detritos e ruínas, grita, chora, geme, para cair e se contorcer como um feto. Um ser que está em aborto. Sendo retirada muito antes de seu último respiro, sua convicção de vida, sua motivação juvenil, sua frágil fé nisso que chamam humanidade. Depois de quase 2 horas um pouco distante do filme e seus muitos diálogos, terminei com uma lágrima no rosto, um inevitável arrepio sobre todo o corpo e uma convicção:

“Esse tipo de filme” só pode ser caracterizado por uma palavra: ARTE.





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