sexta-feira, 5 de junho de 2009

INQUIETAÇÕES


The Brown Bunny, Vincent Gallo, 2003.

Ontem eu preferi nem tocar no assunto, mas um dos barulhos que The Brown Bunny causou se deveu a uma cena explícita de sexo oral entre Vincent Gallo e Chloë Sevigny. Muitos acusaram o diretor de usar desse artifício apenas para chamar atenção para o filme, causar polêmica, enfim, aparecer... Mas eu não sei se posso concordar com esse ponto de vista. Na verdade ainda não sei o que pensar disso tudo.

A cena realmente é pornográfica no sentido de apresentar em detalhe a penetração, sem vergonha alguma, mas não sei se é pornográfica no sentido de má utilização do veículo cinematográfico. Afinal, fazer algo indevido com uma coisa, qualquer que seja ela, é um ato pornográfico, no sentido de não respeitar os fins adequados da coisa. (por exemplo, a política é pornográfica) Por isso, repito, não acho que Gallo tenha realmente sido pornográfico em sua criação.

Deixa eu tentar explicar minha inquietação: por um lado não consigo conter o choque, a sensação de que a imagem não deve mostrar tudo, mas sim sugerir determinadas coisas para o alcance de melhores efeitos; por outro, fico pensando “mas por que não???”, me perguntando sobre a validade de (pelo menos às vezes) se exibir a totalidade de um ato, sem pudor. Aquela idéia de “pô, isso acontece então tem que ser representado em arte” acaba surgindo e mesmo com medo de que isso banalize o estético dando abertura pra muita porcaria acabo tentado a aceitar de bom grado o que Gallo fez. Ainda que a imagem de Chloë sentada em seu colo ternamente me marque mais do que a felação...

É isso, uma imagem que marca. Ela em seu colo, o ângulo do cartaz acima, os pés entrelaçados após a transa durante o último diálogo... Essas imagens me impressionaram esteticamente muito mais do que o close na penetração! Mas eu confesso que se essa última não tivesse acontecido eu não estaria dedicando outro post ao filme... É, realmente isso chama atenção... Até fiquei tentado a fazer o mesmo jogo que entitulei o post de ontem com esse lance do sexo oral, isso de chupar e tal, mas deixa pra lá...

Um comentário:

  1. Acho q é como vc disse e como disse Godard, Nando. "A verdadeira pornografia é a guerra". E a política, e tudo. Acho q banalizar o estético é criar uma estética do banal, como os filmes dito pornográficos, de hj. Vejo q a imagem possui um poder imenso quando prefere mostrar algo q não está graficamente representado dentro de suas formas, captadas pela câmera. Mostrar, entretanto, é também uma arte, um artifício. Sempre penso q saber mostrar é quase tão importante quanto saber sugerir. Os filmes do Bava têm toda uma preparação de mise en scène, de colocação de tudo no quadro, para que se mostre determinadas violências. E é isso.

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