sexta-feira, 5 de junho de 2009

DO AMOR CINEMATOGRÁFICO


Antes do Pôr-do-Sol, Richard Linklater, 2004.

Bem, lembrar desse filme é me lembrar daquela história do cinematográfico... Certamente dei a impressão que meu gosto pessoal condiciona um filme a um tipo de necessidade cinematográfica baseada numa demasiada estetização formal, com ângulos rebuscados, tratamento de imagens meticuloso, etc. Quando tento negar tal aparência posso e devo me referir a Antes do Pôr-do-Sol, obra que em toda simplicidade (extrema mesmo) me oferece o que de mais cinematográfico um filme pode possuir.

Temos aqui apenas dois atores em harmonia entre si e com a câmera. Ponto. Os diálogos, por terem sido escritos conjuntamente com os dois, não contam como outro fator, pois são mesmo parte deles. Não importam aqui os recursos técnicos, os malabarismos de câmera e essas coisas todas que eu adoro (apesar de elas existirem, pois não é fácil conseguir planos-seqüência tão longos em externas), o que está em jogo dessa vez, confesso, é o conteúdo humano, pura e simplesmente capaz de sustentar os 80 min. de duração, que pra mim poderiam se estender bem mais...

Essa aparente simplicidade flerta de perto com o ideal bressoniano de cinematógrafo, uma arte da imagem em movimento isenta de grandes elaborações artificiais, ansiosa por um realismo pungente e carregado de vida (jamais despido de significações secundárias). Nela, o objeto central de investigação e elaboração imagética é o ser humano, o ator, a persona que revelada por uma projeção não deve se distanciar, antes, deseja tocar nossa realidade com uma aparência maior (ironicamente, sempre no domínio do artificial).

Não hesito em afirmar que esse é um dos mais sinceros filmes dos últimos anos, pra mim melhor que o original de 1995. Os desafios foram muito maiores: a idéia de planos-seqüência, o tempo cronológico concentrado em tempo real (no outro tínhamos a síntese de uma noite inteira), e o principal, aqui não lidamos mais com a possibilidade de um amor.

A melancolia impregnada no decorrer da obra transborda a cada frase, a cada revelação de que a vida de ambos se estabeleceu irremediavelmente, e que um simples toque surgido pode desintegrá-los. A esperança não é uma opção. Até os assuntos tratados, tão sérios e distantes daquela juventude gostosa, exigem um deslocamento do amor, do sentimento abafado.

Essa tristeza me alcança. É meu coração o ser tocado naquele gesto de Celine dentro do carro, incrivelmente espontâneo, suficiente para alçar esses dois a uma estatura quase de Bergman e Bogart, outros seres aparentemente desiludidos de esperança.

Ah, casais cinematográficos... Que na dor, na distância, emergem um amor maior que qualquer tentativa minha nessa dita vida real...

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