sexta-feira, 5 de junho de 2009

E SE DEUS EXISTE?


Crimes e Pecados, Woody Allen, 1989.

Impossível sair ileso. Quando me reconheço diante de uma obra-prima demoro muito para conseguir voltar ao normal. Talvez porque a obra que mereça tal denominação transforme minha concepção de normalidade. O fato é que ainda não consegui me “desligar” de Crimes e Pecados. A foto que revela um outro ângulo do mesmo cadáver que apresentei no post anterior (obrigado por existir Angelica) é a melhor imagem para expressar o que estou sentindo por Woody Allen. Esse olhar impotente, incapaz de mudar os fatos, soterrado pela crueldade humana, é o meu olhar.

Assisti O Sonho de Cassandra (2007) e não me surpreendi ao ver Allen revisitar essa sua obsessão por Crime e Castigo. Não, porque as críticas me prepararam bem. Mas me surpreendo por enfim confessar que ele entrou nos meus favoritos como cineasta... A coerência temática está em jogo, como já falei, mas o que mais depõe a favor de Allen é constatar que ele está fazendo suspense como ninguém no cinema atual! Quem me conhece sabe ser esse meu gênero favorito e imagina como eu não fico quando assisto um bom exemplar. Pois é. Estamos diante de um.

Enfim, não quero contar aqui a história do filme. Ela importa, claro, mas vou guardar para quem estiver interessado, ir descobrir os detalhes pessoalmente. Há apenas um ponto que não posso calar. Num momento em que os personagens de Collin e Ewan (parabéns pra vocês caras!) estão se preparando para cometer o crime (um assassinato), Collin se pergunta: “E se Deus existe?”... Essa pergunta parece ser feita em todos os filmes de Allen (Match Point é novamente a grande exceção), principalmente nos casos em que a culpa por um crime está em jogo. OK, mas não é só quem está prestes a matar alguém que se pergunta isso. No meu caso (e que eu me lembre, ainda não matei ninguém), posso colocar essa pergunta como uma das grandes que carrego em minha vida. A fé humana não sobrevive sem momentos de ceticismo ou incredulidade, mas felizmente, todo o meu ceticismo também não resiste sem a pergunta de Allen.

Não estou aqui para responder nada, acho que a maioria conhece minha opinião. Só me resta agradecer a Allen mais uma vez. Pois a obra dele, com seus questionamentos, me leva a crer com mais convicção de que algo existe.

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