sexta-feira, 5 de junho de 2009

O CINEMATOGRÁFICO


Crimes e Pecados, Woody Allen, 1989.

OK, fui questionado a respeito do significado de ‘cinematográfico’, ou pelo menos de como eu o concebo. Antes de tudo quero deixar claro que ao usar este termo realmente não estou me ancorando numa definição teórica pré-estabelecida, mas na ‘minha’ compreensão daquilo que se apresenta num suporte audiovisual como algo que dependa e usufrua nesse suporte de princípios que não poderiam ser alcançados em outras artes.

É verdade que quando acuso Woody Allen de não trabalhar o eminentemente ‘cinematográfico’ em seus filmes estou sendo radical. Como já tinha dito (e percebo a cada nova obra que conheço), existe em Allen um estilo muito particular de narrativa, dotado de intenções próprias que dialogam com outros criadores (irmãos Marx, Fellini), mas subsistem num nível especial de autoria que reconhece (como o próprio termo ‘autoria’ revela) em Allen os méritos do ‘artista’. É fácil identificar um filme de Allen, e como ele mesmo diz numa entrevista recente, praticamente não existem seguidores de seu estilo. Mas novamente pergunto: Além das temáticas, personagens, diálogos e situações burlescas por ele criadas, que outras características podemos levantar em comum na sua obra?

Concordo que um cineasta capaz de contar uma história ‘escondendo’ seu trabalho de câmera e a força do ponto de vista que as imagens oferecem é tão ou mais sagaz que muitos, dependentes de ângulos forçadamente ousados e gratuitos. São poucos os que alcançam essa qualidade (Clint Eastwood é o nome que me vem à mente como o melhor exemplo da atualidade, e particularmente, ainda o prefiro à Allen). Mas como eu disse a princípio, não é esse tipo de cinematografia que mais admiro. Acredito que o ‘objeto cinematográfico’ precisa de uma preocupação formal que ultrapasse as qualidades de um bom roteiro ou idéia narrativa. Acredito na experimentação das imagens (e dos recursos sonoros claro) como um valor maior em um filme. E acho que só por causa dessa especificidade do suporte eu acredito no cinema.

O que mais tenho aprendido a admirar em Allen é a falta de excessos. Tanto no humor quanto no suspense ele demonstra uma plena consciência do ato de narrar e selecionar imagens e cenas. Confessei que ele entrou nos meus ‘favoritos’ e ainda não me arrependi por isso. Talvez amanhã eu venha aqui e retire tudo que eu falei até agora. Por ora, guardo o arrependimento para o personagem da foto acima.

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