sexta-feira, 5 de junho de 2009

O TEXTO DA PELE


O Livro de Cabeceira, Peter Greenaway, 1996.

Ela [a pele] não esconde nada. Não se oferece ao olhar como um invólucro que contém alguma coisa e lhe confere uma forma. Essa idéia de uma ‘pele’ que seria preciso romper para apreender uma espécie de essência da coisa perdura como uma tradição filosófica em que a pele substitui a aparência. Mas ela é apenas uma superfície de registro dos sinais da aparência. Romper sua superfície jamais permitiria que se visse o que há por detrás, já que a própria pele é um ‘existir’ que se dá a ler, a ver e a tocar. Em vez de considerá-la como uma superfície intermediária entre o de fora e o de dentro, parece que, no dia-a-dia, ela é mais uma superfície de auto-inscrição, como um texto, mas um texto particular, pois seria o único a produzir odores, sons e a incitar o tocar. Um texto, ainda, que jamais se submete às regras do sentido, uma vez que ele só se faz linguagem articulada com uma tatuagem. Curiosamente, a pele retira do corpo seu status de objeto, no momento em que ela não é mais percebida como o invólucro das formas. Tal qual uma superfície com seus próprios relevos, ela transforma o corpo-objeto em corpo-texto.

O Corpo Como Objeto de Arte
Henry-Pierre JEUDY

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