sexta-feira, 5 de junho de 2009

AMO CINEMA CLÁSSICO


Sangue Negro, Paul Thomas Anderson, 2007.

OK, graças a essa onda de filmes baixados, emprestados por amigos cinéfilos (Hermano em destaque particular), as reuniões do Dissenso, tudo isso tem me possibilitado conhecer uma faceta de cinema bem diferente da habitual (diga-se de passagem, da norte-americana). Super positivo e importante para minha formação e meu prazer. Mas é inegável: nada como um bom exemplar de cinema clássico...

Provavelmente derivado de minha intimidade literária, o gosto pela estética clássica mexe com meus sentidos de uma forma especial, coisa que eu não acredito mudar tão cedo. Quando me refiro a cinema clássico não estou falando de filmes antigos (rsrsrs), mas da postura que esse tipo de cinema envolve. Muito mais do que uma periodização histórica, a atitude clássica em cinema revela-se como uma escolha narrativa pelo que se aproxima do convencional, da famosa idéia de ‘transparência’, preocupando-se antes de tudo com uma história bem contada. Não que os queridos ângulos devam submeter-se à trama, mas sim que haja uma perfeita harmonia entre esses, mesmo que a forma ouse roubar a atenção (Hitchcock como exemplo máximo nesse sentido). As palavras de Jacques Aumont e Michel Marie, no Dicionário Teórico e Crítico de Cinema, são bem esclarecedoras:

“A norma estético-ideológica do cinema clássico hollywoodiano foi por muito tempo reduzida ao ideal da ‘transparência’. As análises textuais da década de 1970 mostraram que essa norma implicava, na verdade, um trabalho significante bastante complexo, visando, entre outras coisas, a uma espécie de auto-apagamento, de auto-dissimulação, trabalho cuja análise serve, justamente, para salientar os traços. Trabalhos fundados sobre o exame de corpos mais substanciosos adiantaram que essa norma se define, sobretudo, por seu objetivo – comunicar uma história com eficácia -, pois os elementos estilísticos que ela implica só permaneceram estáveis em relação aos grandes princípios: montagem em continuidade, ‘centralização’ figurativa do plano, convenções relativas ao espaço e ao ponto de vista, montagem paralela de várias ações, unidade cênica e princípios de decupagem. As formas que correspondem a esses princípios puderam variar, representando, a cada vez, uma categoria de ‘equivalentes funcionais’ (diferentes procedimentos podem se substituir um ao outro para preencher a mesma função).”


O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford, Andrew Dominik, 2006.

OK, tudo isso para dizer que recentemente tive o prazer de assistir 2 filmes clássicos americanos recentes que estão entre as melhores coisas dos últimos anos. O popularizado pelo Oscar Sangue Negro e o esquecido pelo mesmo O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford. Ah, esse é o tipo de cinema com que mais me identifico! Limpo, enxuto, maduro, consciente de seus recursos. Posso mesmo comentar os dois filmes da mesma maneira... Jornadas épicas com duração aproximada, ritmo despreocupadamente lento, montagem de diálogos primorosa pela simplicidade, ausência de recursos apelativos como sexo e cenas de ação, violência concentrada em pequenos momentos muito marcantes, tudo isso sem esquecer, conduzidos por atores excepcionalmente no melhor ponto de suas carreiras (Day Lewis e Pitt), em personagens de uma complexidade criativa invejável! É, deu pra perceber que estou só elogios...

Outro ponto fortíssimo: ambos bebem descaradamente em Kubrick (autor que soube trabalhar o clássico como ninguém, provando que mesmo a linguagem mais tradicional pode sempre ser reinventada). Os amplos cenários, o ritmo, os travellings e demais movimentos de câmera... como é bom ver que Kubrick está vivo na nova geração americana! Quanto a essa estética kubrickiana, Sangue Negro é discípulo mais evidente, mas afirmo sem duvidar: se Kubrick tivesse filmado um faroeste (um dos poucos gêneros em que ele não se aventurou, faltou pouco! Por uma briga com a produtora, A Face Oculta ficou à cargo de Marlon Brando), ele teria ficado como Jesse James!

E aqui rendo meus louros mais especialmente à obra de Dominik (2º filme dele, torço profundamente para que continue assim), Jesse James me tocou como um filme atual não o fazia há algum tempo, e acho que ele só tende a crescer entre meus preferidos. Bem, preciso muito vê-lo novamente para poder refletir mais coisas (a história é muito linda, a análise da masculinidade e do sentimento me fascina sempre), por isso encerro aqui.

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