sexta-feira, 5 de junho de 2009

ANTOLÓGICA DISCORDÂNCIA


Downhill, Alfred Hitchcock, 1927.

Bem, antes de tudo, posso afirmar: hoje sou um homem mais completo do que ontem. Claro, essa frase poderia ser dita sob qualquer circunstância, positiva ou não, mas não posso recorrer a outro clichê diante de uma experiência cinematográfica como essa. Na verdade, meu deslumbramento com o Making Off tem sido evidente nos últimos dias, não sei até quando, mas que seja eterno enquanto dure... (não consigo evitar a pieguice) O fato de conseguir filmes que não foram lançados comercialmente no Brasil é outro elemento que massageia meu ego de colecionador, por isso mais uma vez menciono a responsabilidade sentida de compartilhar minhas sensações e incentivar que outros descubram tais obras.

Downhill (1927) é o pivô da vez. Bem, há tanta coisa que tenho a dizer sobre esse filme que na verdade vou deixar pra um próximo post (ou próximos, não gosto de textos longos por aqui). Só queria antecipar uma coisa: foi bom demais!!! Eu nem esperava tanto. É sabido que esses primeiros anos do mestre foram muito didáticos, usados mesmo para conhecer os princípios, as técnicas, e que nem sempre resultaram em obras-primas. Não é o caso desse. Na minha opinião, estou diante de um dos mais intrigantes filmes de Hitchcock, onde o suspense não existe dentro de uma preocupação fisiológica de causar medo, mas antes se permite numa posição metafísica, de questionamento do humano (é, isso era típico nele).

Como disse, vou deixar maiores aprofundamentos para outro dia, mas preciso confessar algo. Como de costume, ao procurar as palavras do mestre na Entrevista (Truffaut), deparei-me com declarações que menosprezavam o filme. Hitchcock parecia ter o hábito de nunca estar satisfeito com o que fazia (isso chega a me irritar alguns momentos, pois me parece uma bruta falsa modéstia, é óbvio que ele tinha plena consciência dos resultados que alcançava!), então eu não deveria nem ter me surpreendido, mas o caso é que a maior crítica dele foi justamente ao que eu mais admirei... Estão vendo o ângulo acima? É uma cena em que o personagem principal, acusado por algo que não fez, sai de casa e enfrenta a “cidade selvagem” de Londres. A descida na escada rolante é lenta e se deixa apreender tempo suficiente para sustentar o peso do simbólico (um downhill aos infernos) que dignifica a imagem além do esperado (há outras cenas assim, uma no elevador também chama atenção). Ora, eu adorei!! Entrou pro meu rol de antológicos, entre aquelas inúmeras utilizações que o mestre faz das escadas... Pois é, na Entrevista ele disse ser esse um recurso tão inocente, do qual se arrependia, e que se fizesse naqueles dias (os da entrevista) não cometeria o erro de filmá-lo! Isso acabou comigo... Fiquei realmente encucado... Será que eu sou tão inocente assim? Como pode? Meu momento favorito foi justo o que ele se arrependeu de fazer? Eu sei, eu sei, o que importa é que o momento ficou eternizado, mas perceber essa discordância entre nós me deixou mal...

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